Papa Francisco recebe Monges Beneditinos

20 de abril de 2018 Aconteceu...

Papa a monges beneditinos: discernimento, dom que é preciso pedir ao Espírito Santo

 

O pontífice expressou sua gratidão aos beneditinos pela contribuição importante que deram na vida da Igreja em várias partes do mundo, por quase mil e quinhentos anos.

Papa recebe a Confederação Beneditina - Foto: Vatican Media

Papa recebe a Confederação Beneditina – Foto: Vatican Media

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (19/04), na Sala Clementina, no Vaticano, quatrocentos monges da Confederação Beneditina pelos seus 125 anos de fundação.

 

O pontífice expressou sua gratidão aos beneditinos pela contribuição importante que deram na vida da Igreja em várias partes do mundo, por quase mil e quinhentos anos.

 

“Nesta celebração do Jubileu da Confederação Beneditina queremos recordar, de modo especial, o compromisso do Papa Leão XIII, que em 1893, quis unir todos os beneditinos, fundando uma casa comum de estudo e oração, aqui em Roma. Agradeço a Deus por esta inspiração que levou os beneditinos do mundo inteiro a viverem mais profundamente o espírito de comunhão com a Sé de Pedro e entre si.”

 

Ora et labora et lege

 

“A espiritualidade beneditina é conhecida pelo lema: Ora et labora et lege. Oração, trabalho e estudo. Na vida contemplativa, Deus muitas vezes anuncia a sua presença de forma inesperada. Com a meditação da Palavra de Deus na lectio divina, somos chamados a permanecer em escuta religiosa de sua voz para viver em constante e alegre obediência”, disse ainda Francisco.

 

“A oração gera em nossos corações, dispostos a receber os dons surpreendentes que Deus está sempre pronto a nos dar, um espírito de fervor renovado que nos leva, através de nosso trabalho cotidiano, a procurar a partilha dos dons da sabedoria de Deus com os outros: com a comunidade, com aqueles que vão ao mosteiro para buscar Deus, e com aqueles que estudam em suas escolas, colégios e universidades. Cria-se, assim, uma vida espiritual sempre renovada e revigorada.”

 

Segundo o Papa, “alguns aspectos característicos da liturgia pascal, que estamos vivendo, como o anúncio e a surpresa, a resposta solícita, e o coração disposto a receber os dons de Deus, na realidade fazem parte da vida beneditina de todos os dias”.

 

São Bento foi uma estrela luminosa em seu tempo

 

São Bento pede aos beneditinos em sua Regra para “não colocarem absolutamente nada antes de Cristo”, para que sejam vigilantes, hoje, prontos para ouvi-lo e segui-lo.

 

“São Bento foi uma estrela luminosa em seu tempo, como dizia São Gregório Magno, marcado por uma profunda crise de valores e de instituições. Ele soube discernir entre o essencial e o secundário na vida espiritual, colocando o Senhor firmemente no centro.” 

 

“Que vocês possam praticar o discernimento a fim de reconhecer o que vem do Espírito Santo e o que vem do espírito do mundo ou do espírito do mal. Discernimento que não requer somente uma boa capacidade de raciocinar e de sentido comum, mas um dom que é preciso pedir ao Espírito Santo. Sem a sabedoria do discernimento podemos nos transformar facilmente em marionetes à mercê das tendências do momento.”

 

Carisma beneditino do acolhimento

 

“Nesta época, em que as pessoas estão tão ocupadas e não têm tempo suficiente para ouvir a voz de Deus, seus mosteiros e conventos se tornam como oásis, onde homens e mulheres de todas as idades, origens, culturas e religiões podem descobrir a beleza do silêncio e reencontrar a si mesmas, em harmonia com a criação, permitindo a Deus de restabelecer uma ordem adequada em suas vidas. O carisma beneditino do acolhimento é muito precioso para a nova evangelização, pois lhes dá a oportunidade de acolher Cristo em todas as pessoas que chegam, ajudando aqueles que buscam a Deus a receber os dons espirituais que Ele reserva para cada um de nós.”

 

“Aos beneditinos sempre foi reconhecido o compromisso com o ecumenismo e o diálogo inter-religioso”, recordou o Papa, encorajando a Confederação Beneditina “a prosseguir nesta obra importante para a Igreja e para o mundo. Não há oposição entre vida contemplativa e serviço aos outros. Os mosteiros beneditinos são lugares de oração e acolhimento”.

 

Escola de serviço do Senhor

 

O Santo Padre agradeceu a Confederação Beneditina pelo serviço prestado nos campos da educação e formação, em Roma, e outras partes do mundo. Os beneditinos são conhecidos por serem “uma escola de serviço do Senhor”.

 

“Exorto-os a dar aos alunos, junto com as noções e conhecimentos necessários, os instrumentos para que possam crescer na sabedoria que os leva a buscar continuamente a Deus em suas vidas. Essa sabedoria que os levará a praticar a compreensão recíproca, pois somos todos filhos de Deus, irmãos e irmãs, neste mundo que tem muita sede de paz.”

 

O Papa encerrou o seu discurso, desejando que a celebração do Jubileu dos 125 anos de fundação da Confederação Beneditina seja uma ocasião profícua para refletir sobre a busca de Deus e sua sabedoria, e sobre como transmitir eficazmente a sua riqueza às gerações futuras.

 

Fonte: Vatican News – 19 abril 2018, 13:53

 

 

Papa Francisco aos beneditinos: “encontrar Cristo no monge”

 

A Confederação Beneditina e a Abadia Primaz de Santo Anselmo comemoram 125 anos, e inicia seu jubileu com uma audiência do Santo Padre. Dom Gregório, monge brasileiro, comentou as palavras do Papa.

Audiência com os monges da Confederação Beneditina - Foto: Vatican Media

Audiência com os monges da Confederação Beneditina – Foto: Vatican Media

O Abade Primaz da Abadia de Santo Anselmo , Gregory Polan, O.S.B., anunciou nesta semana as comemorações do Jubileu do 125° aniversário da Confederação Beneditina e da fundação da Abadia Primaz de Santo Anselmo em Roma.

 

As comemorações iniciaram na manhã desta quinta-feira, 19 de abril, com uma audiência com o Santo Padre o Papa Francisco, na Sala Clementina, no Vaticano. No encontro participaram o Abade primaz, os abades e abadessas representantes das confederações, os residentes e os colaboradores do colégio e do Ateneu Santo Anselmo e os representantes dos diversos ramos e instituições internacionais internas da mesma Confederação Beneditina.

 

Dom Gregório de Oliveira, que é padre do mosteiro beneditino em São Paulo e residente no Santo Anselmo em Roma, nos falou sobre a audiência concedida pelo Papa Francisco, destacando também os principais pontos observados pelo Papa:

 

Dom Gregório, OSB

A confederação conta hoje com mais ou menos 7000 monges beneditinos e 12000 monjas e irmãs beneditinas espalhados pelos 5 continentes. Além dos mais de 180.000 estudantes espalhados em nossas escolas e universidades por todo o mundo.

Nesta manhã em Roma, bela e ensolarada, estivemos em audiência com o Santo Padre, onde o Abade Primaz, Gregory Polan, O.S.B, fez a explanação ao Santo Padre sobre todos os trabalhos, o carisma beneditino e os nossos desafios no século XXI.

 

O Santo Padre nos encorajou a sermos fiéis ao zelo pela Sagrada Liturgia, a lectio divina que é a escuta da Palavra de Deus que alimenta o nosso espírito para que possamos alimentar o mundo. O Papa nos chamou a atenção quanto à hospitalidade com os que procuram os nossos mosteiros, pois eles querem encontrar Cristo no monge e o monge deve encontrar Cristo neles, e por fim lembrou o grande carisma do discernimento, sabendo discernir o que vem de Deus, o que vem do mundo e o que vem do Demônio, para que possamos ser fiéis ao chamado de Deus em nossas vidas.

 

Em sua mensagem aos beneditinos presentes na Sala Clementina, o Papa Francisco destacou alguns pontos essenciais da vida monástica, especialmente aquelas aprendidas com São Bento e vividas ainda hoje como regra dentro e fora dos mosteiros:

 

Espiritualidade

 

“A espiritualidade beneditina é renomada pelo seu moto: Ora et labora et lege. Oração, trabalho e estudo. Na vida contemplativa, Deus constantemente anuncia a sua presença de maneira inesperada. Com a meditação da Palavra de Deus na lectio divina, somos chamados a permanecer em uma escuta religiosa da sua voz para viver em constante e alegre obediência. A oração gera no nosso coração, dispostos a receber os dons surpreendentes que Deus está sempre pronto a nos dar, um espirito de renovado fervor que nos leva, através do nosso trabalho cotidiano, a buscar a divisão dos dons da sabedoria de Deus com os outros: com a comunidade, com aqueles que vêm ao mosteiro para a busca de Deus (“quaerere Deum”), e com quantos que estudam nas vossas escolas, colégios e universidades. Assim se gera uma sempre renovada e revigorada vida espiritual.”

 

Liturgia

 

“O vosso amor pela liturgia, como obra fundamental de Deus na vida monástica, é essencial acima de tudo para vós, permitindo-vos estar na presença viva do Senhor; e é preciosa para toda a Igreja, que ao longo dos séculos se beneficiou como fonte de água que irriga e fecunda, alimentando a capacidade de viver, pessoalmente e em comunidade, o encontro com o Senhor ressuscitado.”

 

Acolhida

 

“Nesta época, quando as pessoas estão tão ocupadas que não têm tempo suficiente para ouvir a voz de Deus, seus mosteiros e conventos se tornam como oásis, onde homens e mulheres de todas as idades, origens, culturas e religiões podem descobrir a beleza do silêncio e redescobrir a si mesmo, em harmonia com a criação, permitindo a Deus restaurar uma ordem adequada em suas vidas. O carisma beneditino da acolhida é muito precioso para a nova evangelização, porque lhe dá a oportunidade de acolher a Cristo em todas as pessoas que chegam, ajudando aqueles que buscam a Deus a receber os dons espirituais que ele reserva para cada um de nós.”

 

Ecumenismo

 

“Os beneditinos sempre reconheceram o compromisso com o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Encorajo-vos a continuar neste importante trabalho para a Igreja e para o mundo, colocando a sua tradicional hospitalidade a seu serviço. De fato, não há oposição entre a vida contemplativa e o serviço aos outros. Os mosteiros beneditinos – tanto nas cidades como longe delas – são locais de oração e hospitalidade. Sua estabilidade também é importante para as pessoas que vêm procurá-lo. Cristo está presente neste encontro: ele está presente no monge, no peregrino, no necessitado.”

 

Educação

 

“Sou grato pelo seu serviço na educação e treinamento, aqui em Roma e em outras partes do mundo. Os beneditinos são conhecidos por serem “uma escola de serviço do Senhor”. Exorto-vos a dar aos alunos, juntamente com os conhecimentos e conhecimentos necessários, as ferramentas para que possam crescer na sabedoria que os leva a buscar continuamente a Deus em suas vidas; essa mesma sabedoria que os levará a praticar a compreensão mútua, porque somos todos filhos de Deus, irmãos e irmãs, neste mundo que tem muita sede de paz.”

 

Beneditinos

 

Amanhã, 20 de abril, dando seguimento as comemorações, é esperada uma conferência do Padre Jeremy Driscoll, O.S.B., abade de Mount Angels no Oregon (Estados Unidos), com o tema “Teologia monástica ou sapiencial: estratégia de ensino e de aprendizado”. E para a conclusão do Jubileu de 125° da Confederação Beneditina, no dia 21 será celebrada uma missa solene presidida pelo Secretário de Estado, Sua Eminência o Cardeal Pietro Parolin.

 

No dia 18 de abril de 1893 foi colocada solenemente a primeira pedra do edifício atual de Santo Anselmo, na colina do Aventino, em Roma. Em 12 de julho do mesmo ano, o Papa Leão XIII instituiu oficialmente, com o breve “Summum Semper”, a Confederação Beneditina, unindo assim os diversos mosteiros beneditinos e oferecendo ao mesmo tempo um lugar onde a Ordem beneditina teria doado “de novo a Igreja aqueles grandes monges santos que difundiram no mundo o ensinamento e a cultura cristã” (Leão XIII).

 

Pe Arnaldo Rodrigues – Cidade do Vaticano 

 

Fonte: Vatican News – 19 abril 2018, 14:22