Sínodo – Igreja comprometida contra violações dos direitos dos povos amazônicos

18 de outubro de 2019 Aconteceu...

Sínodo – Igreja comprometida contra violações dos direitos dos povos amazônicos

 

Com a 9ª Congregação Geral teve início a segunda das três semanas do Sínodo especial para a Região Pan-Amazônica que se concluirá em 27 de outubro. Na manhã desta segunda-feira (14/10) encontravam-se presentes 179 padres sinodais. Junto com o Papa elevaram uma oração a Deus pelo Equador

 

O Sínodo é um kairos tempo de graça: a Igreja coloca-se à escuta, em atitude empática e caminha ao lado dos povos originários da selva: periferias geográficas e existenciais que receberam o dom de contemplar diariamente o “Fiat”, a Palavra pronunciada por Deus. Efetivamente, a criação é uma Bíblia verde que revela o Criador e na celebração dos sacramentos o compromisso ecológico encontra seu fundamento mais profundo.

 

Formação permanente e catecumenato por Igreja em saída

Sínodo - Congregação Geral - Foto: Vatican Media

Sínodo – Congregação Geral – Foto: Vatican Media

 

Diante da sensível diminuição de comunidades religiosas na região, como se verifica, por exemplo, no Estado brasileiro do Pará, onde se está passando de uma pastoral de presença a uma visita, pede-se às Congregações religiosas que recuperem o entusiasmo missionário.

 

Ao mesmo tempo, é preciso oferecer uma formação constante e caminhos de catecumenato baseado não somente em livros de estudo, mas sobre a experiência concreta em contato direto com a cultura local.

 

Assumir um rosto amazônico significa compreender sinais e símbolos, próprios destes povos e conviver numa ótica de diálogo e intercultural, encorajando o aprofundamento de uma teologia indígena, a fim de que a liturgia responda sempre mais à cultura local.

 

Isso implica um dinamismo: sair das nossas estruturas e perspectivas. Em alguns casos a Igreja em saída na Amazônia já é uma realidade. São muitos exemplos de presença pastoral finalizada a encorajar os indígenas, esquecidos do mundo, a assumir as rédeas de seu destino. Jamais, porém, ceder à tentação de uma evangelização baseada exclusivamente em programas assistenciais.

 

Ao mesmo tempo, a Igreja é chamada a enfrentar os desafios apresentados, de um lado, pela proliferação das seitas religiosas e, do outro, por uma cultura relativista proveniente de países industrializados.

 

A contribuição no âmbito internacional

 

A Igreja é chamada a fazer ouvir a sua voz. Há quem disse que as representações pontifícias poderiam continuar desempenhando um papel essencialmente junto a governos e organismos internacionais a fim de promover as instâncias das populações amazônicas, acerca de seus direitos à terra, à água, à floresta.

 

Ademais, a Igreja na Amazônia é chamada a promover uma economia circular respeitosa da sabedoria e das práticas locais. Foi também evocada a criação de um observatório eclesial internacional sobre a violação dos direitos humanos das populações amazônicas.

 

Em seguida, a exortação: os países industrializados expressem maior solidariedade em favor dos países com economias frágeis, inclusive pelo fato que constituem um taxa mais elevada de poluição.

 

O Sínodo, com a multiplicidade de intervenções e pontos de reflexão expostos na sala, está reforçando nos participantes a ideia de uma Igreja unida em torno dos desafios da região pan-amazônica. Cada região do mundo sente a proximidade da Amazônia e os frutos desta assembleia especial serão úteis para a Igreja presente no mundo inteiro.

 

Comunicação favoreça interconexão

 

A Amazônia é um mundo multiétnico, multicultural e multirreligioso onde muitas sementes do Verbo já pegaram e estão dando fruto. É desejável a criação de um ecossistema de comunicação eclesial pan-amazônico que seja reflexo da interconexão da humanidade inteira. A ideia não é tanto tecer uma rede de cabos, mas de pessoas humanas.

 

As grandes dificuldades de mobilidade na imensa região exigem, com urgência, uma maior eficácia e capilaridade dos meios de comunicação social. É preciso, ao mesmo tempo, ajudar os povos a saber ler criticamente a informação difundida de modo superficial por alguns meios de comunicação, desmascarando toda forma de manipulação, distorção ou espetacularização.

 

Os ministérios e o discernimento

 

A presença é fundamental. Não somente de sacerdotes e bispos, mas também de colaboradores leigos, homens e mulheres. Um animador, seja ele catequista, leitor, que dê assistência aos enfermos, diácono ou ministro extraordinário da Eucaristia, exerce seu sacerdócio batismal quando assume uma atitude de serviço e não de poder ou domínio.

 

As mulheres são preciosas colaboradoras da missão da Igreja na Amazônia, insubstituíveis no cuidado samaritano, na custódia e na tutela da vida. Ao mesmo tempo, no âmbito da educação foi evidenciada a urgência de transmitir a fé, motivar os jovens a construir o próprio projeto de vida, promover o cuidado da Casa Comum, aumentar a rejeição à chaga do tráfico de pessoas, contrastar o analfabetismo e o abandono escolar.

 

Os jovens devem ser ajudados a integrar os conhecimentos ancestrais com os saberes mais modernos a fim de que ambos concorram para o “bom viver”.

 

Sob a ação do Espírito, cum Petrus e sub Petrus, a Igreja é impulsionada a uma conversão numa ótica amazônica e a empreender sem medo um discernimento e uma reflexão sobre o tema do sacerdócio, ouvindo também a hipótese de ordenar pessoas casadas, sem jamais diluir o valor do celibato.

 

De fato, é preciso ter sempre diante de si o drama das populações que não podem celebrar a Eucaristia por falta de presbíteros ou que recebem o Corpo de Cristo somente uma ou duas vezes por ano.

 

Foi sugerida uma reflexão sobre uma eventual atualização da Carta apostólica Ministeria Quaedam de Paulo VI. Também foi sugerida a introdução de diáconos e diáconas permanentes indígenas que através do ministério da Palavra ajudem o povo local a compreender melhor os Textos Sagrados.

 

Tutela da Casa Comum e exploração irresponsável

 

Foi lançada também a ideia de se criar comunidades cristãs eco-interculturais abertas ao diálogo interinstitucional e inter-religioso que ensinem novos estilos de vida orientados pelo cuidado da Casa Comum. As companhias petrolíferas e de exploração da madeira danificam o ambiente e minam a existência dos povos – foi a denúncia.

 

Efetivamente, os indígenas não obtêm nenhum benefício da extração dos recursos florestais e minerais de suas terras. Portanto, é preciso desmascarar com força a corrupção galopante que alimenta disparidades e injustiças e interrogar-se sobre o que deixaremos às futuras gerações. Também a grande ameaça constituída pelo narcotráfico deve ser contrastada junto com toda conivência que o alimenta.

 

Acesso ao alimento e respeito pelos ecossistemas

 

Foi também dado espaço ao tema da soberania alimentar: todo povo tem o direito de escolher o que cultivar, o que comer e como garantir o acesso ao alimento no respeito pelos ecossistemas.

 

Uma parte relevante da biodiversidade agroalimentar na Amazônia é ainda desconhecida e foi até agora preservada pelas populações locais. Ela não pode acabar sendo explorada por poucos e tirada da população, como aconteceu no campo médico, onde plantas e princípios ativos enriqueceram multinacionais farmacêuticas, sem restituir nada ao povo.

 

Fonte: Vatican News – Cidade do Vaticano