Feliz-idade!

15 de setembro de 2020 Aconteceu...

Feliz-idade!

 

Dom Sergio da Rocha

Cardeal Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil

 

Neste tempo de pandemia, as pessoas idosas têm assumido, com redobrado empenho, o cuidado da saúde. O fato de pertencer a grupos de risco, enquanto pessoa idosa, não diminui o sentido e a alegria de viver. Ao contrário, a pandemia têm levado muitos a valorizarem, ainda mais, a vida e a cuidar melhor da própria saúde e da saúde de seus familiares.  Apesar da influência dos fatores sociais, é fundamental a postura da própria pessoa frente à fase da vida em que se encontra. Corre-se o risco de exaltar uma fase da vida e desdenhar outra, em função de experiências vividas ou a partir de paradigmas estabelecidos socialmente. Na realidade, cada idade tem suas potencialidades e limitações, alegrias e dificuldades. O desafio é fazer da idade que se vive uma feliz idade depende não somente das oportunidades que a vida oferece, mas das posturas pessoais adotadas.

Feliz-idade - Foto: Vatican Media

Feliz-idade – Foto: Vatican Media

 

Se não for possível experimentar a vida, após os sessenta anos, como a “melhor idade”, como muitos denominam, será sempre muito válido torná-la uma “feliz idade”. Para tanto, muitas iniciativas têm sido desenvolvidas visando à valorização e ao bem estar das pessoas idosas: avanços na legislação, com o Estatuto do Idoso, cursos oferecidos por universidades, acesso a computador e internet, projetos sociais e serviços especializados para essa faixa etária, associações e grupos de pessoas idosas, iniciativas das Igrejas, como a Pastoral da Pessoa Idosa. Fazer da “terceira idade” uma feliz idade é tarefa pessoal que necessita também da sociedade em que vivemos, a começar do ambiente familiar, estendendo-se aos outros ambientes e situações. A exigência de políticas públicas adequadas em favor das pessoas idosas interpela, de modo especial, os poderes públicos e pressupõe o exercício consciente da cidadania pela população. É preciso assegurar os direitos das pessoas idosas, como a aposentadoria digna, e demonstrar afeto, gratidão e respeito para com elas, no cotidiano.

 

O papel de cada pessoa neste processo é insubstituível, pois a felicidade não depende apenas de fatores externos, mas do modo como se compreende e se vive a vida. A pessoa idosa não deve se deixar levar por estereótipos e preconceitos, nem pela exaltação ingênua. É importante cultivar uma postura serena e realista diante das normais limitações da idade, sem se acomodar. É preciso reconhecer e desenvolver as potencialidades da vida, o seu rico e inesgotável dinamismo, continuando a crescer rumo ao amadurecimento, cada vez maior, afetivo, intelectual e espiritual. A vivência da fé em Deus anima cada pessoa em qualquer fase da vida, mas enriquece e fortalece ainda mais quem recebe o dom de chegar à idade avançada e ilumina a tarefa de fazer dela uma “feliz-idade”.

 

*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 13 de setembro de 2020.

 

Fonte: Vatican News