Papa Angelus: A fé autêntica e madura é capaz de iluminar as muitas “noites” da vida
Francisco: “quem confia em Deus sabe bem que a vida de fé não é algo estático, mas é dinâmica: é um caminho contínuo, para ir para etapas sempre novas, que o próprio Senhor indica dia após dia.
Papa durante o Angelus – Foto: ANSA
O Papa Francisco rezou ao meio-dia deste domingo (11/08) o Angelus com os milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro. Na sua alocução que precedeu a oração mariana o Santo Padre citou a página evangélica do domingo na qual Jesus chama os seus discípulos à vigilância constante para captar a passagem de Deus na própria vida, porque Deus continuamente passa na nossa vida.
Francisco sublinhou que “a verdadeira fé abre o coração ao próximo e encoraja a comunhão com os irmãos, especialmente com aqueles que estão na necessidade”. Chamou então a atenção a todos os fiéis que se professam cristãos que “ninguém pode retirar-se intimamente na certeza da sua própria salvação, desinteressando-se dos outros”.
O Pontífice exortou “a não criar raízes em cômodas e tranquilizadoras habitações, mas abandonar-se com simplicidade e confiança à vontade de Deus, que nos guia para a próxima meta.
“O Senhor sempre caminha conosco e tantas vezes nos pega pela mão, para nos guiar, para não errarmos neste caminho tão difícil. De fato, quem confia em Deus sabe bem que a vida de fé não é algo estático, mas é dinâmica: é um caminho contínuo, para ir para etapas sempre novas, que o próprio Senhor indica dia após dia. Porque Ele é o Senhor das surpresas, o Senhor das novidades, mas das verdadeiras novidades”.
E depois – continuou Francisco – nos é pedido para mantermos as “lâmpadas acesas” para sermos capazes de iluminar a escuridão da noite. Somos convidados, isto é, a viver uma fé autêntica e madura, capaz de iluminar as muitas “noites” da vida. “E sabemos, todos nós tivemos dias que eram verdadeiras noites espirituais”. “A lâmpada da fé precisa ser alimentada continuamente, com o encontro coração a coração com Jesus na oração e na escuta da sua Palavra”.
O Papa recordou então o que já dissera várias vezes: “carreguem sempre com vocês um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa, para o lê-lo. É um encontro com Jesus, com a Palavra de Jesus. Esta lâmpada do encontro com Jesus na oração e na sua Palavra nos é confiada para o bem de todos”. E sublinhou: “é uma fantasia crer que alguém possa iluminar-se de dentro. Não, é uma fantasia”.
Francisco disse ainda que Jesus, para nos fazer compreender a atitude de espera, conta a parábola dos servos que esperam o retorno do patrão quando regressa de um casamento, apresentando assim outro aspecto da vigilância: estar prontos para o encontro último e definitivo com o Senhor. Cada um de nós vai se encontrar com Ele naquele dia do encontro. Cada um de nós tem a sua própria data para o encontro final.
O Papa observou que “a vida é um caminho em direção à eternidade; por isso, somos chamados a fazer frutificar todos os talentos que temos, nunca esquecendo que não temos aqui a cidade estável, mas estamos à procura da cidade futura”. Nesta perspectiva o Pontífice concluiu, “cada momento se torna precioso”, com vista a “construir um mundo mais justo e fraterno”.
Dom Orani: “Iniciamos hoje a Semana Nacional da Família que vai do dia 11 ao dia 17 e tem como tema A família, como vai? ”
Cristo Pantocrator – Foto: Vatican Media
É com muita alegria que neste domingo, 19º Domingo do tempo Comum, dia do Senhor, comemoramos o dia dos pais. Dentro deste mês vocacional, rezamos nesta semana pela vocação familiar, fazendo uma saudação especial a todos os pais, que assumem a paternidade e estão junto com suas esposas formando famílias cristãs, abraçando esta responsabilidade de passar aos filhos a fé, os valores básicos da vida em sociedade, ajuda-los no crescimento pessoal, espiritual, material, cultural, quem os preparem para viver cada vez mais sua vida de bons cristãos, bons seres humanos que possam fazer a diferença ali onde se encontrem. Rezamos também por todos os pais falecidos, para que estejam junto do Pai Eterno cuidado de nós.
Rezando pela família e pela vocação matrimonial neste segundo domingo do mês vocacional, consideramos o aspecto natural da relação e atração homem e mulher em sua complementariedade, mas consideramos também o aspecto da vocação, chamados por Deus a ser família e continuadores da obra da criação, a estar com Cristo no centro da vida familiar, sendo esta realidade o que dá sentido à vida do marido, da esposa e dos filhos, à semelhança da Sagrada Família de Nazaré que tema centralidade de Cristo como seu fundamento.
Iniciamos hoje a Semana Nacional da Família que vai do dia 11 ao dia 17 e tem como tema A família, como vai? Esperamos que em nossa arquidiocese, paróquias e comunidades possam refletir, aprofundar e fortalecer os laços familiares daqueles que caminham em família, na comunidade cristã, sendo ao mesmo tempo um sinal para fora das comunidades. A vocação familiar que celebramos neste segundo domingo de agosto deve nos levar a expressar para fora a importância da família bem constituída, da família que sabe aceitar-se mutuamente, que sabe levar as cruzes e resolver em conjunto os problemas, que sabe perdoar-se, conviver, crescer cada vez mais na fé. Numa realidade em que os valores fundamentais vão sendo perdidos, sabemos que são necessários testemunhos que nos incentivem a valorizar a importância da família e que as pessoas possam ver que mesmo com as dificuldades que advém das circunstâncias do dia a dia, a vivência da fé faz a diferença. Em meio a tantas propagandas contrárias à permanência e perseverança da vida de família, que os bons sinais sejam cada vez mais presentes e eficazes. Que esta pergunta: A família, como vai? Não nos faça olhar somente para as realidades familiares, mas também para cada um de nós, para que encontremos caminho eficazes de repropor a importância da vocação familiar em nossos dias.
A Palavra de Deus que nos é dirigida neste final de semana, 19º Domingo do Tempo comum, vem dando sequência ao que temos ouvido nos domingos anteriores: de um lado nos lembra a importância da vigilância e da fé: o verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, numa existência de comodismo, mas está sempre atento e disponível para acolher o Senhor, para escutar os seus apelos e para construir o Reino aqui e agora.
O Evangelho (Lc 12, 32-48) vem nos apresentar o quão importante é a atitude e vigilância para a vida de todo cristão, mas também de todos os seres humanos. Apresenta uma catequese sobre a vigilância. Propõe aos discípulos de todas as épocas uma atitude de espera serena e atenta do Senhor, que vem ao nosso encontro para nos libertar e para nos inserir numa dinâmica de comunhão com Deus. O verdadeiro discípulo é aquele que está sempre preparado para acolher os dons de Deus, para responder aos seus apelos e para se empenhar na construção do Reino.
Ele tem seu início lembrado a necessidade e a conveniência de uma vida livre de apegos a bens temporais: “‘Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 32-34). O pano de fundo desta questão é a pergunta sobre quem é o nosso Deus: o dinheiro ou o Pai que está nos céus? Logo após, apresenta então a realidade da vigilância: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar” (Lc 12, 35-37). A palavra de Deus vem então nos falar dessa vigilância em acolher o Senhor que chega, que vem ao nosso encontro, de forma inesperada. Usando a imagem de servos que esperam o senhor voltar de uma festa, assim o cristão deve estar sempre atento aos sinais do Senhor que vem a nós e que passa. Estar preparados porque não sabemos nem o dia nem a hora! Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes’ (Lc 12, 40). Seguidamente temos a indagação de Pedro sobre os destinatários da parábola, ao que segue a resposta do Senhor com a seguinte conclusão: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lc 12,48)! Ante a realidade de um mundo onde se busca unicamente ter para si e não se preocupar com o outro, somos chamados a viver conscientes de que estamos com os pés neste mundo, mas temos contas a prestar diante de Deus. Por isso somos chamados a ser vigilantes e a não deixar para amanhã a nossa vida de conversão, de entrega a Deus e de fazer o bem ao outro. Quando menos esperarmos, nossa hora chegará. Vigiamos não por medo, mas porque temos consciência da missão que o Senhor nos confiou.
A primeira leitura deste domingo (Sb 18, 6-9) fala-nos da noite da libertação: A noite da libertação fora predita a nossos pais; Ela foi esperada por teu povo, como salvação para os justos e como perdição para os inimigos. Com efeito, aquilo com que puniste nossos adversários, serviu também para glorificar-nos, chamando-nos a ti. Os piedosos filhos dos bons ofereceram sacrifícios secretamente e, de comum acordo, fizeram este pacto divino: que os santos participariam solidariamente.
O “sábio” que nos fala na leitura assegura que só a fidelidade aos caminhos de Deus gera vida e libertação; e que ceder aos impulsos do egoísmo e da injustiça gera sofrimento e morte. Hoje, como ontem, num mundo de trevas em relação aos valores, nem sempre parece fazer sentido trilhar o caminho do bem, da verdade, do amor, do dom da vida. Na realidade, onde é que está o caminho da verdadeira felicidade? Ceder ao mais fácil, à moda, ao “politicamente correto”, ou na fidelidade aos valores do Evangelho, ao chamado de Jesus? Como é que eu me situo face às pressões que, todos os dias, a opinião pública ou a moda me impõem? Devemos preparar-nos para que, quando o Senhor passar, possamos estar disponíveis às maravilhas de Graça e Misericórdia que Ele tem a nos oferecer.
Essa realidade aparece com muita clareza quando lidamos com a questão da fé, que vai nos ser apresentada na segunda leitura, esta clássica passagem da carta aos Hebreus (Hb 11, 1-2.8-19): apresenta o que é a fé assim como apresenta belos exemplos desta realidade, onde cada versículo mereceria uma reflexão da nossa parte: A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem. Foi a fé que valeu aos antepassados um bom testemunho. Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber como herança, e partiu, sem saber para onde ia. Foi pela fé que ele residiu como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas com Isaac e Jacó, os coerdeiros da mesma promessa. Pois esperava a cidade alicerçada que tem Deus mesmo por arquiteto e construtor. Foi pela fé também que Sara, embora estéril e já de idade avançada, se tornou capaz de ter filhos, porque considerou fidedigno o autor da promessa. É por isso também que de um só homem, já marcado pela morte, nasceu a multidão ‘comparável às estrelas do céu e inumerável como a areia das praias do mar’. Todos estes morreram na fé. Não receberam a realização da promessa, mas a puderam ver e saudar de longe e se declararam estrangeiros e migrantes nesta terra. Os que falam assim demonstram que estão buscando uma pátria, e se se lembrassem daquela que deixaram, até teriam tempo de voltar para lá. Mas agora, eles desejam uma pátria melhor, isto é, a pátria celeste. Por isto, Deus não se envergonha deles, ao ser chamado o seu Deus. Pois preparou mesmo uma cidade para eles.
O autor convida os fiéis a confiar na posse dos bens futuros, anunciados por Deus, mas invisíveis agora. A nossa caminhada nesta terra está marcada pela finitude, pelas nossas limitações, pelo nosso pecado; mas isso não pode fazer-nos desanimar e desistir: viver de fé é apontar para a vida plena que Deus nos prometeu e caminhar ao seu encontro. É esta esperança que nos anima e que marca a nossa caminhada, sobretudo nos momentos mais difíceis, em que tudo parece desmoronar-se e as coisas deixam de fazer sentido.
Portanto, irmãos, estar vigilantes para quando o Senhor passar, assim como o povo de Deus estava vigilante quando o Senhor passou e tirou do Egito. Ao mesmo tempo, é pela fé que deixamos essa realidade se fazer presente em nosso meio. Mesmo a promessa feita a nosso pai na fé Abraão não se realizou de maneira imediata, só no seu devido tempo.
Que escutemos com atenção a palavra de Deus dirigida neste domingo, ao iniciarmos a semana nacional da família, ao rezarmos pelos pais, enquanto pedimos o dom da vigilância e o dom da fé. Não deixemos para amanhã a conversão. Vivamos o hoje, o agora da Graça de Deus, do Cristo que passa, pois o ontem já se foi e não sabemos se o amanhã chegará. Procuremos fazer o bem e ajudar a quem precisa hoje. O salmo responsorial vem nos lembrar exatamente desta realidade: No Senhor nós esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção! Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos! Que saibamos fazer a nossa parte enquanto famílias cristãs, trilhando os caminhos do Senhor e, vivendo a fé, esperar aquilo que ainda não vemos.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Murilo: canonização de Irmã Dulce é ‘alegria e compromisso’
Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, antecipa a programação das celebrações e marca encontro com o povo brasileiro no dia 20 de outubro, na Arena Fonte Nova, em Salvador, para missa em honra da nova Santa”.
Papa Francisco em Recente Canonização no Vaticano – Foto: Vatican Media
Irmã Dulce, a primeira mulher nascida no Brasil que se tornará santa, será canonizada no dia 13 de outubro de 2019, durante o Sínodo para a Amazônia, em uma celebração presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano.
Anjo Bom da Bahia
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, a irmã Dulce, era conhecida como Anjo Bom da Bahia, em função do trabalho social com os pobres em Salvador (BA). Começou prestando assistência à comunidade favelada dos bairros de Alagados e de Itapagipe e depois fundou a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário de Salvador e o Círculo Operário da Bahia, que promovia atividades culturais e recreativas, além de uma escola de ofício. Em 1949, acolheu no galinheiro situado ao lado do Convento Santo Antônio cerca de 70 doentes recolhidos das ruas de Salvador. O episódio é considerado a origem da OSID (Obras Sociais Irmã Dulce), instituição filantrópica fundada por ela dez anos depois.
Dom Murilo Krieger – Arcebispo Primaz do Brasil – Foto: Arquidiocese de Salvador
Em declaração exclusiva ao Vatican News, o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, falou da “alegria imensa pela canonização da nossa pequenina, humilde e batalhadora Irmã Dulce dos pobres”.
Alegria e compromisso
“Será uma ocasião de encorajamento a todos para buscar a santidade. Irmã Dulce veio nos dizer que cada época tem seus santos, mas todos têm em comum o amor a Deus, o amor ao próximo e a dedicação, especialmente aos preferidos de Jesus, os mais pequeninos”.
Programa das celebrações
“Irmã Dulce deixou uma obra que agora precisa ser continuada. Dia 13 de outubro vamos participar da missa presidida pelo Papa Francisco. No dia 14, haverá uma missa na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses (Roma) em ação de graças pelo dom que Salvador, a Bahia e o Brasil estão recebendo. No dia 20, às 16h, na Arena Fonte Nova (Salvador/BA), vamos presidir a missa em honra daquela que já estará nos altares”.
Ouça o áudio:
Silvonei José/Cristiane Murray – Cidade do Vaticano
Santa Sé reitera inviolabilidade do segredo da Confissão
Entrevistado pelo Vatican News, o cardeal Mauro Piacenza explica a Nota da Penitenciaria Apostólica sobre a importância do foro interno e a inviolabilidade do sigilo sacramental: “o sacerdote – diz ele – não é o dono da Confissão, mas age em nome de Deus”. Que nenhuma “ação política ou iniciativa legislativa” – é enfatizado no texto publicado – force a inviolabilidade do sigilo sacramental.
Inviolabilidade do Sigilo Sacramental – Foto: Vatican Media
Após o Curso sobre o foro interno, o trigésimo, realizado em março passado no Palácio da Chancelaria em Roma, e a audiência do Papaconcedida ao final do encontro aos mais de 700 participantes, a Penitenciaria Apostólica publicou uma nota sobre a importância do foro interno e a inviolabilidade do sigilo sacramental, aprovada pelo Papa Francisco e assinada pelo Penitenciário-Mor, cardeal Mauro Piacenza, e pelo regente Mons. Krzysztof Nykiel.
A apresentação do Cardeal Piacenza
Na apresentação do documento, o cardeal Piacenza explica como precisamente o Pontífice tenha recordado a natureza sagrada do foro interno, “a esfera íntima da relação entre Deus e os fiéis”, nem sempre corretamente entendida e custodiada, até mesmo dentro da própria comunidade eclesial: o Papa – ressalta o purpurado – de fato recomendava o quanto o conceito de foro interno deveria ser “seriamente” levado em consideração, sem ecos “externos”, e reafirmando a absoluta inviolabilidade do sigilo sacramental, garantia “indispensável” do Sacramento da Reconciliação.
Confidencialidade inviolável
A Penitenciaria Apostólica – explica o cardeal – bem conhece o “inestimável valor do segredo sacramental, da confidencialidade, da inviolabilidade da consciência”, conceitos que “atualmente parecem ser em grande parte mal interpretados ou até mesmo, em alguns casos, confrontados”.
A nota – acrescenta – “toma como ponto de partida” a constatação de que, na sociedade moderna “fortemente midiatizada’”, ao desenvolvimento tecnológico e à implementação dos meios de comunicação não corresponde um “análogo compromisso pela busca da verdade”, mas sim o “desejo mórbido de fazer circular as notícias, verdadeiras ou falsas que sejam, ampliadas ou diminuídas de acordo com os interesses”.
Penitente fala com Deus
Neste contexto, há quem gostaria que o ordenamento jurídico da Igreja “se adequasse àquele dos Estados em que ela vive, em nome de uma suposta justiça e transparência”.
A Penitenciaria Apostólica considera, portanto, “urgente” – afirma o cardeal – recordar a “absoluta inviolabilidade do sigilo sacramental”, fundado no “direito divino”, sem exceções.
Por esta razão, é “essencial” insistir na “incomparabilidade entre sigilo confessional e sigilo profissional” observado por médicos, farmacêuticos, advogados. O penitente, de fato – observa o purpurado – fala “a Deus”.
Qualquer “ação política ou iniciativa legislativa” voltada a “forçar” a inviolabilidade do sigilo sacramental constituiria – lê-se na Nota – uma “inaceitável ofensa contra a libertas Ecclesiae“, que não recebe a própria legitimidade de Estados individuais, mas precisamente de Deus.
Proteção das crianças
A nota também trata – destaca a Penitenciária Maior – do âmbito jurídico-moral daqueles “atos de foro interno que ocorrem fora do sacramento da Penitência”, aos quais o Direito Canônico garante um “sigilo especial”.
E trata ainda das outras “espécies” de segredo, que ultrapassam o âmbito do foro interno, reafirmando “o princípio do direito natural em custodiar o segredo”.
O Cardeal Piacenza precisa, ademais, que o texto da nota “não pode e não quer de forma alguma ser uma justificação ou uma forma de tolerância em relação aos execráveis casos de abusos perpetrados por membros do clero”: “nenhum acordo é aceitável no que tange à promoção da proteção de menores e das pessoas vulneráveis e no prevenir e combater toda forma de abuso”, como repetidamente reiterado pelo Papa Francisco.
A nota especifica como “a defesa do sigilo sacramental e a santidade da confissão nunca poderão constituir formas de conivência com o mal”, sublinhando o como pertence “à estrutura do próprio Sacramento da Reconciliação, como condição para a sua validade, o arrependimento sincero, juntamente com o firme propósito de emendar-se e de não reiterar o mal cometido”.
A entrevista com o Cardeal Piacenza
Entrevistado pelo Vatican News, o cardeal Piacenza explica as razões da nota publicada nesta segunda-feira:
– Há algum tempo circulam alguns discursos, feitos em determinados ambientes, se o confessor não pode ou até mesmo não teria o dever – eventualmente ouvindo certos pecados do penitente – de denunciar ou obrigar, para poder dar a absolvição, o próprio penitente a se auto acusar. Ora, aqui estamos em um foro sacramental e em um foro sacramental não pode haver nenhuma concessão, porque o sacerdote não é o patrão da Confissão, mas age em nome de Deus: ninguém jamais poderia absolver dos pecados, mas é somente Deus quem absolve. Portanto, é uma graça que é dada e que vem diretamente do valor do Preciosíssimo Sangue do Crucificado, em sua imensa misericórdia para com todos os pecadores. No entanto, isso não diminui em nada a gravidade de certos fatos. Além disso, na Confissão também há sérios deveres por parte do penitente, porque o penitente deve realmente estar arrependido na matéria da qual ele se confessa, deve ter o firme propósito de não voltar a cometer o crime ou pecado que cometeu. E depois, naturalmente, existe sempre, no colóquio entre o confessor e o penitente, todo um discurso de acompanhamento.
O contexto ao qual o senhor faz referência também está ligado aos casos de abusos sexuais de menores e pessoas vulneráveis por membros do clero?
– Também, claro. Aqui, porém, falamos da Confissão – não de outras censuras ou de outras coisas – de foro interno, isto é, a confissão de determinados pecados que também são crimes graves: se existe a confissão, eles se enquadram em um sigilo sacramental que é absolutamente inviolável por parte de todos.
O senhor fazia menção a um certo preconceito negativo em relação à Igreja Católica. Existiria, neste sentido, o desejo de que a Igreja se conformasse às leis civis dos Estados em certos temas?
– Às vezes sim, sente-se um pouco uma injustificável intenção de que a Igreja, em alguma matéria, venha a homologar seu próprio ordenamento jurídico às leis civis dos Estados em que atua, vive, como se essa fosse a única garantia de correção e retidão. Mas a Igreja tem em si a possibilidade de ter toda a seriedade e a retidão possíveis e imagináveis. Isso não incide, obviamente, no fato de que o Estado proceda de seu próprio modo: isso é lógico. E se deve colaborar, mas em tudo que não é um foro sacramental.
A nota se atém na absoluta inviolabilidade do sigilo sacramental, sobre o qual também tem se pronunciado o Papa Francisco, como na audiência que concedeu aos participantes do curso de Foro interno. Em particular, do que se trata?
– De não assumir uma mentalidade relativista sobre o sigilo sacramental, fazendo de novo referência à base teológica e, portanto, ao próprio fato de que a pessoa que absolve é o próprio Deus. Assim, o sigilo sacramental e a confidencialidade inerente ao foro interno, também essa sacramental, são elementos a serem recordados e aos quais, sobretudo os confessores, devem se referir continuamente.
Também são mencionados “Foro interno não-sacramental” e “direção espiritual”. Do que se trata?
– Por exemplo, a direção espiritual, ou a orientação das almas para o discernimento, para saber o que Deus quer de uma alma: esta é uma conversa, e portanto, não faz parte, não é um sacramento evidentemente. Procura-se um sacerdote, pede-se um conselho e, nesse sentido, não é dito que deva ser necessariamente somente um sacerdote, pode ser uma pessoa pela qual se tem profunda estima pela sua santidade de vida, pela correção de comportamento, a caridade. Portanto, este é um âmbito que é secreto, mas é extra-sacramental, portanto não está sujeito à mesma disciplina de sigilo, porém requer uma particular confidencialidade.
Então, qual objetivo que esta nota quer alcançar?
– Repassar a clareza de ideias a todos aqueles que são ministros do Sacramento da Confissão e alertar aqueles que abriram algumas brechas em relação a este ponto. E dar sempre maior confiança, também neste tempo, aos penitentes que vêm para confessar e às pessoas que vêm abrir suas almas para receber conselhos. E portanto, em última análise, ajudar a causa do sacrifício de Cristo, que veio tirar os pecados do mundo.
Três brasileiros vão receber o pálio das mãos do Papa (Acompanhe ao vivo)
Pálio é símbolo de união dos pastores com o Pontífice – Foto: Vatican Media
No próximo sábado, 29 de junho, três arcebispos brasileiros receberão o pálio das mãos do Papa Francisco: Dom Dario Campos, da Arquidiocese de Vitória (ES), Dom João Inácio Muller, da Arquidiocese de Campinas (SP) e Dom João Justino de Medeiros Silva, de Montes Claros (MG).
Na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa Francisco preside à tradicional Missa durante a qual entrega o Pálio aos novos arcebispos metropolitanos.
Desta vez, os brasileiros serão três: Dom Dario Campos, da Arquidiocese de Vitória (ES), Dom João Inácio Muller, da Arquidiocese de Campinas (SP) e Dom João Justino de Medeiros Silva, de Montes Claros (MG).
A cerimônia será transmitida ao vivo, com comentários em português, a partir das 09h30 locais (04h30 no horário de Brasília). Após a celebração, o Pontífice conduz a oração mariana do Angelus aos meio-dia – sempre com transmissão ao vivo da Rádio Vaticano / Vatican News.
Novo caminho europeu de peregrinação: “Romea Strata”
Basílica de Aquileia – Foto: Vatican Media
A nova peregrinação é um percurso chamado “Romea Strata” que parte do Báltico para chegar a Roma. O caminho atravessa a Polônia, República Tcheca, Áustria e Itália. Foi idealizado pelo padre Raimondo Sinibaldi, diretor da Fundação Homo Viator São Teobaldo
Do Mar Báltico às portas de Roma, o único percurso de peregrinação que vem do Leste da Europa. Estas são as características mais importantes do novo caminho europeu “Romea Strata”, apresentado na segunda-feira (24) em Aquileia, cidade na província de Údine no norte da Itália.
Ouça o áudio da reportagem:
O projeto
Foi iniciado na tarde de segunda-feira (24) na cidade de Údine, os procedimentos para a certificação de itinerário cultural do Conselho da Europa, do novo caminho “Romea Strata”. O projeto foi criado pelo padre Raimondo Sinibaldi, diretor da Fundação Homo Viator São Teobaldo e promovido pela recém formada Associação Europeia Romea Strata. O novo caminho atravessa a Polônia, República Tcheca, Áustria, depois entra na Itália através das regiões Friuli, Vêneto, Trentino-Alto Ádige, Emilia Romanha, Lombardia e Toscana. Neste ponto o caminho europeu une-se à Via Francígena (rota medieval de peregrinação) para chegar a Roma.
Participaram da apresentação os representantes do Instituto Europeu de Itinerários Culturais, Stefano Domingoni e do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Eugenio Bruno.
As origens do caminho europeu
Irmã Naike Borgo, responsável pela comunicação de “Romea Strata” explica ao Vatican News: “O caminho europeu é um projeto nascido em 2013, graças a um Convênio inicial que formamos e trabalhamos juntos com o Centro Italiano de estudos compostelanos com o qual colaboramos, mas que hoje é formado juridicamente com a eleição do presidente e de todos os órgãos”. Os viajantes farão o caminho seguindo os passos dos antigos peregrinos até o túmulo de São Pedro e São Paulo. “O nosso objetivo – prossegue a irmã Naike – é levar os peregrinos de hoje a viver a experiência de encaminhar-se com fé através de culturas e paisagens que se encontram no percurso até Roma”. “O nosso maior desejo – conclui a religiosa – é criar uma grande via de peregrinação do Mar Báltico até Roma”.
O significado da peregrinação
Dom Eugenio Bruno explica: “Gostaríamos de receber a peregrinação como uma nova via de evangelização, isso significa sobretudo procurar compreender o que o homem carrega dentro de si quando se desloca, quando se coloca a caminho”. Para compreender o sentido da peregrinação é fundamental entender o papel da Igreja. “Interceptar estas necessidades do homem significa, como Igreja, interceptar o Evangelho ali onde está secretamente agindo. Para a comunidade cristã – acrescenta Dom Bruno – significa se colocar no mesmo caminho dos homens”.
Três brasileiros vão receber o pálio das mãos do Papa (Acompanhe ao vivo)
Pálio é símbolo de união dos pastores com o Pontífice – Foto: Vatican Media
No próximo sábado, 29 de junho, três arcebispos brasileiros receberão o pálio das mãos do Papa Francisco: Dom Dario Campos, da Arquidiocese de Vitória (ES), Dom João Inácio Muller, da Arquidiocese de Campinas (SP) e Dom João Justino de Medeiros Silva, de Montes Claros (MG).
Na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa Francisco preside à tradicional Missa durante a qual entrega o Pálio aos novos arcebispos metropolitanos.
Desta vez, os brasileiros serão três: Dom Dario Campos, da Arquidiocese de Vitória (ES), Dom João Inácio Muller, da Arquidiocese de Campinas (SP) e Dom João Justino de Medeiros Silva, de Montes Claros (MG).
A cerimônia será transmitida ao vivo, com comentários em português, a partir das 09h30 locais (04h30 no horário de Brasília). Após a celebração, o Pontífice conduz a oração mariana do Angelus aos meio-dia – sempre com transmissão ao vivo da Rádio Vaticano / Vatican News.
Uma ligação especial liga os Papas dos últimos cem anos com a imagem de São José. O “estilo” do esposo de Maria e guardião silencioso de Jesus inspirou de vários modos o ministério petrino dependendo da época e da experiência pessoal.
São José com Jesus e Maria
A silhueta de São José estendida no sono, ao lado da mesa onde estuda e assegura as necessidades da Igreja universal, está ali para recordar que também em um sonho pode se esconder a voz de Deus. Papa Francisco tem ao seu lado, desde sempre, nos quartos onde morou e estudou a pequena estátua de São José dormindo.
Ouça o áudio da reportagem
O “solucionador”
Até hoje a estátua de São José está sobre a sua escrivaninha na Casa Santa Marta. Esta imagem, e a devoção de Francisco por aquilo que representa, teve uma imprevista popularidade mundial quando alguns anos atrás o próprio Papa falou durante o Encontro Mundial das Famílias em Manila.
Uma confidência que revelou uma confiança total na força mediadora do pai putativo de Jesus e uma admiração pelo papel e pelo estilo que José sempre encarnou:
“Amo muito São José, porque é um homem forte e silencioso. Na minha escrivaninha, tenho uma imagem de São José que dorme e, quando tenho um problema, uma dificuldade, escrevo um bilhetinho e meto-o debaixo de São José, para que o sonhe. Este gesto significa: reza por este problema! (Encontro com as famílias em Manila – 16 de janeiro de 2015).
Um nome para muitos Papas
Depois de Pedro, muitos Joãos, Bentos, Paulos, Gregórios, mas nenhum José. Nunca teve um Papa com este nome. Porém, muitos deles, especialmente no último século, o tiveram como nome de Batismo, como se os homens chamados para custodiar Jesus fosse um viático para os homens chamados para custodiar a Igreja. No início do século XX José Melchiorre Sarto torna-se Pio X e mais tarde sobem ao trono de Pedro Angelo José Rocalli, Karol Józef Wojtyla e Joseph Ratzinger. Francisco não se chama José, mas celebra, agradecido, a sua Missa de início de ministério dia 19 de março. Invocações que recordam o discreto modelo que inspira.
Muitos Papas por um nome
As etapas que levaram a Igreja a estabelecer o culto de São José foram muito longas, desde Sisto V que no final do século XV fixou a data da festa para 19 de março até a última decisão de Papa Francisco que, confirmando a vontade Bento XVI, no dia 1º de maio de 2013 decreta o acréscimo do nome de São José, Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, nas Orações eucarísticas II, III e IV (precedentemente João XXIII tinha estabelecido em 13 de novembro de 1962 a introdução no antigo Cânone romano da Missa, ao lado do nome de Maria e antes dos Apóstolos). Foi também João XXIII, que querendo confiar ao “pai” terreno de Jesus o Concílio Vaticano II, escreveu em 1961 a Carta Apostólica Le Voci, na qual faz um tipo de sumário da devoção a São José sustentada pelos seus predecessores. Não são opacas operações de “burocracia” litúrgica. Por trás de cada novo decreto colhe-se um sentimento e uma consciência eclesial cada vez mais enraizada como por exemplo, como aconteceu a Pio XII, podem chegar a marcar também na vida civil.
Um Santo que trabalha
No dia primeiro de maio de 1955, era um domingo e a Praça São Pedro estava repleta de fiéis. Pio XII faz um discurso enérgico aos presentes exortando todos a se orgulharem da sua identidade cristã frente às ideologias socialistas que pareciam dominar . No final surpreende a multidão com um “presente” que entusiasma todos:
“Para que todos entendam este significado (…) queremos anunciar a Nossa determinação de instituir – como de fato instituímos – a festa litúrgica de São José operário, marcando-a no dia 1º de maio. Trabalhadores e trabalhadoras, agrada-vos o nosso dom? Temos certeza que sim, porque o humilde artesão de Nazaré não só personifica junto a Deus e a Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas é também sempre providente guardião vosso e de vossas famílias” (Festa de S. José Operário – 1º de maio de 1955).
“Papa José” não é possível
Quatro anos mais tarde a Igreja estava sendo guiada por um homem que queria se chamar “Papa José”. Renunciou, disse, porque “não é usado entre os Papas”, mas a explicação revela a nostalgia e a forte devoção que João XXIII tinha por São José:
“Faça com que também os teus protegidos compreendam que não estão sós no seu trabalho, mas saibam descobrir Jesus ao seu lado, acolhê-lo com a graça, custodiá-lo com a fé como tu o fazes. E faça com que em cada família, em cada fábrica, oficina, onde quer que trabalhe um cristão, tudo seja santificado na caridade, na paciência, na justiça, na busca do fazer bem, para que desçam abundantes dons da celeste predileção” (19 de março de 1959)
O homem dos riscos
Paulo VI também não se chama José, mas de 1963 a 1969 em particular, não deixa de celebrar uma Missa na solenidade de 19 de março. Cada homilia torna-se uma peça que forma um retrato pessoal com o qual Paulo VI mostra-se fascinado pela “completa e submissa dedicação” de José à sua missão, do homem “talvez tímido” mas dotado “de uma grandeza sobre-humana que encanta”.
“São José, um homem ‘comprometido’ como se diz agora, por Maria, a eleita entre todas as mulheres da terra e da história, sempre sua virgem esposa, também fisicamente sua mulher, e por Jesus, em virtude da descendência legal, não natural, sua prole. A ele, os pesos, as responsabilidades, os riscos, as preocupações da pequena e singular sagrada família. A ele o serviço, a ele o trabalho, a ele o sacrifício, na penumbra do quadro evangélico, no qual nos agrada contemplá-lo, e certamente, sem dúvida, agora que tudo conhecemos, chamá-lo feliz, bem-aventurado. Isso é Evangelho. Nele os valores da existência humana assumem medidas diferentes daquela que somos acostumados a apreciar: aqui o que é pequeno torna-se grande” (Homilia de 19 de março de 1969).
O esposo sublime
Em 26 anos de pontificado João Paulo II falou de São José em infinitas ocasiões e, sempre disse que rezava intensamente pelo santo todos os dias. Essa devoção se resume no documento que lhe dedica em 15 de agosto de 1989, com a publicação da Exortação Apostólica Redemptoris Custos, escrita 100 anos depois da Quamquam Pluries de Leão XIII. No documento Papa Wojtyla aprofunda a vida de José em vários aspectos principalmente o do matrimônio cristão no qual oferece uma profunda leitura da relações entre os dois esposos de Nazaré.
“A dificuldade de se aproximar ao mistério sublime da sua comunhão esponsal levou todos, desde o século II, a atribuir a José uma idade avançada e a considerá-lo guardião, mais do que esposo de Maria. É o caso de supor, ao invés, que na época ele não fosse um homem idoso, mas que a sua perfeição interior, fruto da graça, o levasse a viver com afeto virginal a relação esponsal com Maria” (Audiência Geral de 1996).
O pai silencioso
De São José não se conhecem as palavras, apenas os silêncios. Bento XVI aprofunda-se na aparente ausência de São José e extrai dela a riqueza de uma vida completa, de um homem fundamental que com seu exemplo sem proclamações marcou o crescimento de Jesus o homem-Deus:
“Um silêncio graças ao qual José, em união com Maria, custodia a Palavra de Deus (…) um silêncio marcado pela oração constante, oração de bênção do Senhor, de adoração da sua santa vontade e de confiança sem reservas à sua providência. Não se exagera quando se pensa que do próprio “pai” José, Jesus tenha tomado – no plano humano – a robusta interioridade que é pressuposto da autêntica justiça, a “justiça superior”, que ele um dia ensinará aos seus discípulos”. (Angelus de 2005)
O Santo da ternura
Da pequena “paróquia” de Santa Marta, Papa Francisco refletiu muito sobre o Santo ao qual confia todas suas preocupações. “O homem que custodia, o homem que faz crescer, o homem que leva adiante toda paternidade, todo mistério, mas não pega nada para si”, disse um uma das Missas matutinas. Por fim, em 20 de março de 2017 sublinha que José é o homem que age também quando dorme porque sonha o que Deus quer.
“Hoje gostaria de pedir que nos conceda a todos a capacidade de sonhar, porque quando sonhamos coisas grandes, bonitas, aproximamo-nos do sonho de Deus, daquilo que Deus sonha sobre nós. Que conceda aos jovens — porque ele era jovem — a capacidade de sonhar, de arriscar e de cumprir as tarefas difíceis que viram nos sonhos. E conceda a nós a fidelidade que em geral cresce numa atitude correta, cresce no silêncio e na ternura que é capaz de guardar as próprias debilidades e as dos outros”.
Suzano: Papa Francisco convida a promover a cultura da paz
Diante desta “abominável tragédia”, o Papa convida a promover a “cultura da paz com o perdão, a justiça e o amor fraterno, como Jesus nos ensinou“. O Pontífice reza pela recuperação dos feridos e concede a todos a sua benção apostólica.
Papa Francisco convida a culta da paz – Foto: Vatican Media
“Profundamente entristecido”, o Papa Francisco enviou um telegrama ao bispo de Mogi das Cruzes, dom Pedro Luiz Stringhini, manifestando sua solidariedade e conforto espiritual às famílias atingidas pelo “insano ataque” à escola Raul Brasil.
Diante desta “abominável tragédia”, o Papa convida a promover a “cultura da paz com o perdão, a justiça e o amor fraterno, como Jesus nos ensinou“. O Pontífice reza pela recuperação dos feridos e concede a todos a sua benção apostólica.
O telegrama assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, foi lido ao final da celebração eucarística realizada em Suzano.
Eis o texto do telegrama:
«EXMO. E REVMO.
DOM PEDRO LUIZ STRINGHINI
BISPO DE MOGI DAS CRUZES
PROFUNDAMENTE ENTRISTECIDO PELA NOTÍCIA DO INSANO ATAQUE CONTRA ALUNOS, PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS DA ESCOLA ESTADUAL RAUL BRASIL, NA CIDADE DE SUZANO, SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO DESEJA ASSEGURAR ATRAVÉS DE VOSSA EXCELÊNCIA REVMA. SOLIDARIEDADE E CONFORTO ESPIRITUAL ÀS FAMÍLIAS QUE PERDERAM SEUS ENTES QUERIDOS, AO MESMO TEMPO QUE ELEVA ORAÇÕES PELA RECUPERAÇÃO DOS FERIDOS. O SANTO PADRE CONVIDA A TODOS, DIANTE DESTA ABOMINÁVEL TRAGÉDIA, A PROMOVER A CULTURA DA PAZ COM O PERDÃO, A JUSTIÇA E O AMOR FRATERNO, COMO JESUS NOS ENSINOU. COMO PENHOR DE CONFORTO, O PAPA FRANCISCO CONCEDE ÀS PESSOAS ATINGIDAS POR ESTE LUTO E QUANTOS PARTICIPAM NA MISSA DE EXÉQUIAS A BÊNÇÃO APOSTÓLICA.
O aniversário do pontificado, olhando para o essencial
Francisco viveu e está prestes a viver intensos meses de viagens e Sínodo. Seu sexto ano foi caracterizado pelo flagelo dos abusos e pelo sofrimento de alguns ataques internos: a resposta foi um convite a voltar ao coração da fé.
Aniversário Pontificado Papa Francisco – Foto: Vatican Media
O sexto aniversário da eleição vê o Papa Francisco comprometido em um ano cheio de importantes viagens internacionais, marcado no início e no final, por dois eventos “sinodais”: o encontro para a proteção de menores realizado no Vaticano em fevereiro passado, com a participação dos presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, e o Sínodo especial sobre a Amazônia, que será celebrado – também no Vaticano -, em outubro próximo. De notável impacto a recente viagem aos Emirados Árabes que viu o Bispo de Roma assinar uma Declaração conjunta com o Grande Imame de Al-Azhar. Um documento que se espera possa ter consequências no campo da liberdade religiosa. O tema ecumênico prevalecerá nas próximas viagens à Bulgária e depois à Romênia, enquanto a desejada, mas ainda não oficializada viagem ao Japão, poderá ajudar a recordar a devastação causada pelas armas nucleares, como advertência para o presente e para o futuro da humanidade que experimenta a “terceira guerra mundial em pedaços”, da qual o Papa fala frequentemente.
Ouça o editorial
Mas um olhar ao ano apenas transcorrido não pode ignorar o ressurgimento do escândalo dos abusos e das divisões internas que levaram o ex-núncio Carlo Maria Viganò, em agosto passado, precisamente quando Francisco celebrava a Eucaristia com milhares de famílias em Dublin, repropondo a beleza e o valor do matrimônio cristão, a pedir publicamente a renúncia do Papa por causa da gestão do caso McCarrick. Diante dessas situações, o Bispo de Roma pediu a todos os fiéis do mundo que rezassem o Terço todos os dias, durante todo o sucessivo mês mariano de outubro de 2018, para unirem-se “em comunhão e penitência, como povo de Deus, pedindo à Santa Mãe de Deus e a São Miguel Arcanjo para protegerem a Igreja do diabo, que sempre visa nos separar de Deus e entre nós”. Tal pedido tão detalhado não tem precedentes na história recente da Igreja. Com suas palavras e o apelo ao povo de Deus para rezar para manter a unidade da Igreja, Francisco nos fez entender a gravidade da situação e ao mesmo tempo expressou a cristã consciência de que não existem remédios humanos capazes de assegurar um caminho de saída.
Mais uma vez, o Papa chamou ao essencial: a Igreja não é formada por super-heróis (nem mesmo por super-papas) e não avança com a força de seus recursos humanos ou estratégias. Sabe que o maligno está presente no mundo, que existe o pecado original, e que para nos salvarmos, precisamos da ajuda do Alto. Repeti-lo não significa diminuir as responsabilidades pessoais dos indivíduos e nem mesmo as das instituições, mas situá-las em seu real contexto.
“Com esta solicitação de intercessão” – estava escrito no comunicado vaticano com o pedido do Papa para a oração do Terço em outubro passado – “o Santo Padre pede aos fiéis de todo o mundo para rezar para que a Santa Mãe de Deus coloque a Igreja sob seu manto protetor: para preservá-la dos ataques do maligno, o grande acusador, e ao mesmo tempo torná-la cada vez mais consciente dos abusos e erros cometidos no presente e no passado”.
No presente e no passado, porque seria um erro “descarregar” sobre aqueles que vieram antes de nós as culpas e apresentar-nos como “puros”. Também hoje a Igreja deve pedir a Alguém para ser libertada do mal. Um dado de fato que o Papa, em continuidade com seus antecessores, recorda constantemente.
A Igreja não se redime sozinha dos males que a afligem. Também do horrível abismo dos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos, não se sai em virtude de processos de auto-purificação, muito menos confiando-se a quem se investiu no papel de purificador. Normas sempre mais eficazes, responsabilidade e transparência são necessárias, na verdade indispensáveis, mas nunca serão suficientes. Porque a Igreja, recorda-nos hoje o Papa Francisco, não é auto-suficiente e testemunha o Evangelho a muitos homens e mulheres feridos do nosso tempo, precisamente porque também ela se reconhece como mendigo de cura, necessitando de misericórdia e de perdão do seu Senhor. Talvez nunca como no conturbado ano que passou, o sexto do seu pontificado, o Papa que se apresenta como “um pecador perdoado”, seguindo o ensinamento dos Padres da Igreja e de seu imediato predecessor Bento XVI, testemunhou este dado essencial, e mais do que nunca atual da fé cristã.