Na pró-Catedral de Dublin, Papa ouviu testemunhos e perguntas de casais a respeito do amor e da educação dos filhos.
A tarde do Papa Francisco na Irlanda começou com a visita à pró-Catedral de Santa Maria, a mais importante igreja de Dublin, consagrada em 1825.
Papa revolução do amor começa na família – Foto: Vatican Media
Ali, o Pontífice foi acolhido pelo arcebispo da cidade, Dom Diarmuid Martin, e por casais de noivos e de esposos.
Perguntas ousadas
De fato, o discurso bem humarado proferido por Francisco foi em resposta a perguntas que ele definiu “ousadas” de dois jovens casais, mas antes o Papa ouviu o testemunho de Vincent e Teresa, que falaram de sua experiência de 50 anos de matrimônio.
“Como é importante ouvir os idosos, os avós! Temos muito a aprender da sua experiência de vida matrimonial, sustentada dia a dia pela graça do sacramento.”
Vocação
Denis e Sinead estão prestes a se casar e questionaram o Pontífice quanto à durabilidade do amor, levando em consideração que o matrimônio não é somente uma instituição, mas uma vocação.
“Com certeza, temos de reconhecer que hoje não estamos habituados a algo que dure realmente toda a vida”, reconheceu o Papa, acrescentando que é difícil acompanhar o mundo em que tudo muda à nossa volta. As pessoas entram e saem de nossas vidas, quebrando promessas. “Mas o amor é definitivo. Como se diz, o outro é a metade da laranja. Sabemos que o casamento é um risco, mas um risco que vale a pena.”
Mas sabemos que o amor é o sonho de Deus para nós. “Por favor, nunca esqueçam disso! Deus tem um sonho para nós, e pede-nos para o assumirmos. Não tenham medo deste sonho! Guardem-no e, juntos, sonhem de novo todos os dias. Assim, serão capazes de os apoiar mutuamente com esperança, com força e com o perdão, nos momentos em que o percurso se fizer árduo tornando-se difícil vislumbrar o caminho.”
Transmissão da fé
Já Stephen e Jordan são esposos recém-casados e fizeram a pergunta de como poderão os pais transmitir a fé aos filhos.
Francisco recordou que o local mais importante para se transmitir a fé é o lar, “igreja doméstica”, onde os filhos aprendem o significado da fidelidade, da honestidade e do sacrifício.
“Veem como a mãe e o pai se comportam entre si, como cuidam um do outro e de todos, como amam a Deus e à Igreja.”
O Papa recordou uma cena de quando era criança, quando viu a mãe acolher o pai que voltava do trabalho com um beijo. Então aconselhou a rezar em família, falar de coisas boas e santas, viver em profunda solidariedade com aqueles que sofrem e estão à margem da sociedade. Os filhos aprendem dos pais a viver como cristãos, pois são seus primeiros mestres na fé.
Revolução do amor
Todavia, as virtudes e as verdades que o Senhor ensina não são valorizadas pela sociedade atual, que desconsidera os mais vulneráveis. “O nosso mundo precisa de uma revolução de amor! Que esta revolução comece por vocês e por suas famílias!”
Essa revolução do amor, disse ainda Francisco, passa pela revolução da ternura. “Parece até que a palavra ternura foi retirada do dicionário.”
“Possam as famílias da Igreja inteira agradecer a Deus pelo dom da fé e pela graça do matrimônio cristão. Por nossa vez, comprometamo-nos com o Senhor a servir a vinda do seu reino de santidade, justiça e paz com a fidelidade às promessas que fizemos e com a perseverança no amor!”
Papa: chaga dos abusos nos desafia à firmeza e decisão na busca da verdade e justiça
No Angelus, o Papa pediu a intercessão de Maria “pela cura de todas as pessoas que sofreram abusos de qualquer tipo” e para que confirmasse “cada membro da família cristã no decidido propósito de nunca mais permitir que se verifiquem tais situações”, assegurando também sua “estima e proximidade na oração” à população da Irlanda do Norte.
Papa em oração no Santuário mariano de Knock – Foto: Vatican Media
“Esta chaga aberta nos desafia a sermos firmes e decididos na busca da verdade e da justiça. Imploro o perdão do Senhor para estes pecados, para o escândalo e a traição sentidos por muitos na família de Deus”.
No Angelus no Santuário mariano em Knock, o Papa Francisco voltou a deplorar o escândalo dos abusos ocorridos na Irlanda e agradeceu pelos “progressos ecumênicos e pelo significativo crescimento de amizade e colaboração entre as comunidades cristãs” no país.
Chovia e fazia 12ºC neste domingo, 26, em Knock, distante 178 km de Dublin. Apesar da curta distância, por questões de segurança descartou-se o deslocamento do Papa em helicóptero. Assim, após 40 minuto de voo a bordo de um A321 da Aer Lingus, o Santo Padre chegou ao aeroporto da cidade no Condado de Mayo.
O Santuário
Após as aparições no século XIX, Knock tonou-se um dos maiores santuários marianos da Europa, ao lado de Fátima e Lourdes. A cada ano atrai cerca de um milhão e meio de peregrinos. Em 1979, São João Paulo II visitou o local para comemorar o centenário das aparições. Em 1993, também Santa Madre Teresa de Calcutá rezou no Santuário.
Próximo à cidadezinha está um lugar sagrado para os irlandeses, o monte Croagh Patrick, local onde São Patrício expulsou todas as serpentes da ilha e jejuou, no ano 441, durante os 40 dias da Quaresma. No último domingo de julho, no “Reek Sunday”, milhares de fiéis peregrinam ao local, muitos descalços.
Antes de chegar ao Santuário, o Papa Francisco trocou de veículo e passou de papamóvel entre os fiéis, sendo então acolhido pelo arcebispo de Tuam, Dom Neary, por 4 bispos da Província Eclesiástica e por autoridades. Estavam presentes algumas crianças.
Ao chegar à Capela das Aparições, onde estavam reunidos 200 fiéis, o Papa foi recebido pelo Reitor do Santuário, Padre Gibbons. Francisco saudou alguns fiéis, depositou flores ao pés da imagem da Virgem e acendeu uma vela. Então, um momento de oração silenciosa. O Papa ofereceu um Terço de ouro no local, abençoou alguns doentes, transferindo-se então à Esplanada do Santuário para rezar os Angelus.
Tradição do terço em família
“Good morning!”, começou o Papa saudando os fiéis em inglês. “Estou feliz de estar aqui com vocês, na Casa da Mãe!”
“Na Capela da Aparição, confiei à amorosa intercessão de Nossa Senhora todas as famílias do mundo e, de modo especial, as vossas famílias, as famílias irlandesas”, disse Francisco, acrescentando:
“Como recordação da minha visita, trouxe o dom dum terço de ouro. Sei como é importante, neste país, a tradição do terço em família. Não abandonem esta tradição. Quantos corações de pais, mães e filhos, no decorrer dos anos, tiraram consolação e força da meditação sobre a participação de Nossa Senhora nos mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos da vida de Cristo!”
O Papa pediu, que por intercessão de Maria, as famílias sejam, “no meio dos ventos e tempestades que enfuriam nos nossos tempos, baluartes de fé e bondade que, segundo as melhores tradições da nação, resistem a tudo o que pretenda diminuir a dignidade do homem e da mulher, criados à imagem de Deus e chamados ao destino sublime da vida eterna”.
“ Que Nossa Senhora olhe com misericórdia para todos os membros atribulados na família do seu Filho ”
Nunca mais abusos
Ao rezar diante da imagem na capelinha das aparições – explicou Francisco – apresentei a Maria “de modo particular todos os sobreviventes, vítimas de abusos por membros da Igreja na Irlanda”:
“Nenhum de nós pode deixar de se comover perante as histórias de menores que sofreram abusos, foram despojados da sua inocência ou que foram afastados das mães e abandonados à deformação de dolorosas recordações. Esta chaga aberta nos desafia a sermos firmes e decididos na busca da verdade e da justiça. Imploro o perdão do Senhor para estes pecados, para o escândalo e a traição sentidos por muitos na família de Deus. Peço à nossa Bem-aventurada Mãe que interceda por todas as pessoas sobrevividas aos abusos de qualquer tipo e confirme cada membro da família cristã no decidido propósito de nunca mais permitir que se verifiquem tais situações. E também de interceder por todos nós, para que possamos proceder sempre com justiça e reparar, no que depender de nós, tanta violência”
Irlanda do Norte
Assegurando sua “estima e proximidade na oração” à população da Irlanda do Norte – que não esteve incluída nesta viagem visto o objetivo ser a participação no Encontro Mundial das Famílias – o Pontífice pediu a Nossa Senhora “que sustente todos os membros da família irlandesa para que perseverem, como irmãos e irmãs, na obra de reconciliação”.
Francisco também agradeceu pelos “progressos ecumênicos e pelo significativo crescimento de amizade e colaboração entre as comunidades cristãs”.
“Rezo para que todos os discípulos de Cristo continuem com perseverança os esforços por fazer avançar o processo de paz e construir uma sociedade harmoniosa e justa para os filhos de hoje, sejam cristãos, sejam muçulmano, sejam judeus, sejam de qualquer fé: filhos da Irlanda”.
Depois de recitar o Angelus, o Papa dirigiu uma saudação especial “aos homens e mulheres reclusos neste país”, e de modo particular, agradeceu a quantos escreveram a ele ao saberem de sua ida à Irlanda.
“A vós e aos vossos familiares, asseguro a minha proximidade e a minha oração. Que Maria, Mãe de Misericórdia, vele por vós e vos fortaleça na fé e na esperança”.
O Papa foi presenteado ao final com um quadro com uma imagem de Nossa Senhora de Knock e deixou um Cálice para as celebrações no Santuário. Após, retornou para Dublin.
O Papa Francisco dedicou sua catequese na Audiência Geral ao segundo mandamento: “não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”.
Audiência Geral – Foto: Vatican Media
A Sala Paulo VI acolheu cerca de sete mil peregrinos para a Audiência Geral desta quarta-feira (22/08).
Dando continuidade às catequeses sobre os Dez mandamentos, o Papa comentou o segundo: “não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”.
Trata-se de um convite a não ofender o nome de Deus e evitar um uso inoportuno, superficial, vazio ou hipócrita.
Nome é missão
Na Bíblia, o nome representa a verdade íntima das coisas e, sobretudo, das pessoas. Alguns personagens bíblicos recebem um novo nome ao serem chamados por Deus para realizar uma missão, como Abraão e Simão Pedro.
Em concreto, conhecer o nome de Deus significa experimentar a transformação da própria vida: pensemos no Batismo, onde recebemos uma vida nova, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
O Pontífice então deu uma “tarefa” aos adultos: que ensinem as crianças a fazer bem o sinal da cruz. “É o primeiro ato de fé de uma criança”, reiterou.
Sem hipocrisias
Todavia, advertiu o Papa, é possível viver uma relação falsa com Deus, como faziam os doutores da lei. Portanto, esta Palavra do Decálogo é justamente o convite a uma relação com Deus sem hipocrisias, a uma relação na qual entregamos a Ele tudo aquilo que somos.
É preciso deixar de lado a teoria e tocar o coração, como fazem os santos e as pessoas que dão um testemunho de vida coerente. Assim, o anúncio da Igreja será mais ouvido e resultará mais crível.
“ Cristo em nós e nós Nele. Unidos. Isso não é hipocrisia, é verdade. Isso não é rezar como um papagaio, é rezar com o coração, amar o Senhor. ”
Deus jamais diz “não”
A partir da cruz de Cristo, prosseguiu, ninguém pode desprezar si mesmo e pensar mal da própria existência. “Ninguém e nunca! Porque o nome de cada um de nós está sobre os ombros de Cristo.”
Francisco então concluiu: “Qualquer pessoa pode invocar o santo nome do Senhor, que é Amor fiel e misericordioso, em qualquer situação se encontre. Deus jamais dirá ‘não’ a um coração que O invoca sinceramente”.
Irlanda
Ao final da Audiência, ao saudar os peregrinos de língua italiana, o Papa manifestou sua solidariedade aos familiares dos excursionistas que perderam a vida numa enchente na região da Calábria nos dias passados.
O Pontífice pediu ainda orações para sua próxima viagem, nos dias 25 e 26 de Agosto, a Dublin, na Irlanda, para o Encontro Mundial das Famílias. “Que seja um momento de graça e de escuta da voz das famílias cristãs de todo o mundo.”
Papa: grandes sonhos precisam de Deus para não se tornarem miragens
70 mil jovens na tarde deste sábado com o Papa no Circo Máximo em Roma, em preparação ao Sínodo de outubro. Depois de passar entre a multidão, Francisco respondeu aos questionamentos de alguns jovens que expressaram suas inquietudes ao Santo Padre.
Papa com jovens no Circo Máximo – Foto: Vatican Media
“Por mil estradas rumo a Roma”: Desde o início da tarde deste sábado, 11, mesmo com o forte calor, milhares de jovens italianos começaram a chegar ao Circo Máximo, em Roma, para a Vigília e o encontro com o Papa Francisco, que deixou o Vaticano às 18 horas. Mas as atividades tiveram início já às 16h30, com as boas-vindas e a animação com Christian Music (The Sun). O Papa passou de papamóvel entre a multidão e depois, no palco, respondeu às perguntas de alguns jovens. (O texto não contém as improvisações do Santo Padre):
A Primeira pergunta, foi feita por dois jovens: Letizia, 23 anos e Lucamatteu, 21. Eles expressam dois aspectos da mesma busca: a construção da própria identidade e dos próprios sonhos:
Letizia:
Caro Papa Francisco, sou Letizia, tenho 23 anos e estou estudando na universidade. Eu gostaria de dizer ao senhor uma palavra sobre nossos sonhos e como vemos o futuro. Quando eu tive que realizar a importante escolha do que fazer no final do V superior, eu estava com medo de confiar no que eu realmente sonhava em querer me tornar, porque isso teria significado descobrir-se completamente aos olhos dos outros e de mim mesma.
Decidi confiar na opinião de alguns adultos que eu admirava pela profissão e pelas escolhas. Dirigi-me para o professor que mais estimava, o prof. de Artes, aquele que ensinava as coisas para mim mais apaixonantes. Eu disse a ele que queria seguir seu caminho, ser como ele. E eu escutei uma resposta que agora já não era mais como uma vez, que os tempos mudaram, que havia uma crise, que eu não encontraria trabalho e que deveria escolher um campo de estudos que respondesse melhor às exigência do mercado. “Escolha economia”, ele me disse. Eu senti uma grande decepção; senti-me traída no sonho que lhe havia confiado, quando, em vez disso, eu procurava um encorajamento justamente daquela figura que eu queria imitar. No final, escolhi o meu caminho, escolhi seguir a minha paixão e estudo Arte.
Em vez disso, um dia, em um oratório onde sou educadora, uma das minhas alunas me disse para ter confiança em mim, para estimar as minhas escolhas. Ela me disse que eu representava quase um modelo para ela e que ela gostaria de fazer o que eu fazia.
Foi ali, naquele momento, que decidi conscientemente que assumiria todo o compromisso de ser educadora: não teria sido aquele adulto traidor e desapontador, mas teria dado tempo e energia, com todos os encargos que isso poderia acarretar, porque uma pessoa confiou em mim.
Luccamatteo:
Santo Padre, quando olhamos para o nosso futuro, estamos acostumados a imaginá-lo tingido de cores cinzentas, escuras e ameaçadoras. Para lhe dizer a verdade, para, parece que vejo um diapositivo branco, onde não há nada …
Às vezes eu tentei desenhá-lo, meu futuro. Mas no final vejo algo que não me satisfaz. Eu tento explicar a mim mesmo: acho que somos nós que o desenhamos, mas muitas vezes acontece que partimos de um grande projeto, uma espécie de grande afresco ao qual, apesar de nós mesmos, tiramos pouco a pouco alguns detalhes. O resultado é que os projetos e os sonhos, por medo dos outros e de seu julgamento, acabam sendo menores do que eram no início. E acima de tudo, acabam criando algo que nem sempre gosto …
Papa Francisco:
Os sonhos são importantes. Eles mantêm o nosso olhar amplo, ajudam-nos a abraçar o horizonte, a cultivar a esperança em todas as ações diárias. E os sonhos dos jovens são os mais importantes de todos, são as estrelas mais luminosas, aquelas que indicam um caminho diferente para a humanidade. Assim, queridos jovens, vocês têm em seu coração estas estrelas brilhantes que são seus sonhos: elas são sua responsabilidade e seu tesouro. Façam que que sejam também o seu futuro!
É claro, os sonhos precisam crescer, são purificados, colocados à prova e também compartilhados. Mas vocês nunca se perguntaram de onde vêm os sonhos de vocês? Eles nasceram assistindo televisão? Ouvindo um amigo? Sonhando com os olhos abertos? Eles são grandes sonhos ou sonhos pequenos, miseráveis, que se contentam com o mínimo possível?
A Bíblia nos diz que os grandes sonhos são aqueles capazes de serem fecundos, de semear paz e fraternidade, eis que estes são sonhos grandes, porque pensam em todos com o NÓS. Os grandes sonhos incluem, envolvem, são extrovertidos, compartilham, geram nova vida. E os grandes sonhos, para permanecer como tal, têm necessidade de uma fonte inesgotável de esperança, de um Infinito que sopra dentro e os expanda. Grandes sonhos precisam de Deus para não se tornarem miragens ou delírio de onipotência.
Você sabem? Os sonhos dos jovens assustam um pouco os adultos. Talvez porque eles tenham parado de sonhar e de arriscar, talvez porque os sonhos de vocês minam suas escolhas de vida. Mas vocês, não deixem que roubem seus sonhos. Procurem bons professores capazes de ajudá-los a compreendê-los e torná-los concretos em gradualidade e na serenidade. Sejam por sua vez bons mestres, mestres de esperança e de confiança para as novas gerações que estão no encalço de vocês. O que vocês receberam gratuitamente, coloquem de volta para circular, restituam isso enriquecido com a paixão e inteligência de vocês. A vida não é uma loteria em que apenas os sortudos podem realizar seus sonhos. A vida é um desafio em que se vence realmente quando se vence juntos, se não se esmaga o outro, se ninguém é excluído.
O santo Papa João XXIII dizia: “Eu nunca conheci um pessimista que tenha concluído algo de bom” (entrevista de Sergio Zavoli a Monsenhor Capovilla, em Jesus, 6, 2000). Aqui está. Mantenham um olhar positivo e abençoado nestes tempos e nos futuros. Não tenham medo, as dificuldades sempre existiram para todas as geração e cada geração tem a tarefa de superá-las e torná-las oportunidades de bem.
A segunda pergunta é proposta por Martina, 24 anos, e diz respeito ao discernimento na vida e a ideia de compromisso e responsabilidade em relação ao mundo que os jovens estão fazendo neste tempo
Santo Padre, eu sou Martina, tenho 24 anos. Algum tempo atrás, um professor me fez refletir sobre como a nossa geração não é capaz nem mesmo de escolher um programa na TV, muito menos se envolver em um relacionamento para toda a vida …
Na verdade, acho difícil dizer que estas namorando. Pelo contrário, prefiro dizer “fiquei”: é mais simples! Envolve menos responsabilidades, pelo menos aos olhos dos outros!
No fundo, porém, sinto fortemente que quero comprometer-me em projetar e construir desde agora uma vida juntos.
Então, eu me pergunto: por que o desejo de tecer relações autênticas, o sonho de formar uma família, são considerados menos importantes do que os outros e devem ser subordinados a seguir uma realização profissional? Eu percebo que os adultos esperam isso de mim: que antes tenha uma profissão, depois você começa a ser uma “pessoa”.
Temos necessidade de adultos para nos recordem como é lindo sonhar a dois! Precisamos de adultos que sejam pacientes no estar perto de nós e assim nos ensinem a paciência de estar ao lado; que nos escutem em profundidade e nos ensinem a ouvir, em vez de sempre ter razão!
Temos necessidade de pontos de referência, apaixonados e solidários.
Você não acha que as figuras de adultos verdadeiramente estimulantes são raras no horizonte? Por que os adultos estão perdendo seu senso de sociedade, de ajuda mútua, de compromisso com o mundo e nas relações? Por que isso às vezes acontece também aos padres e educadores?
Eu acredito que sempre vale a pena ser mães, pais, amigos, irmãos … por toda a vida! E eu não quero deixar de acreditar nisto!
Papa Francisco
Escolher, ser capaz de decidir por si mesmo parece ser a mais alta expressão de liberdade. E de certo modo o é. Mas a ideia de escolha que respiramos hoje é uma ideia de liberdade sem vínculos, sem compromissos e sempre com alguma via de fuga: “Eu escolho, no entanto …”. Há sempre um “porém”, que às vezes se torna maior que a escolha e a sufoca. É assim que a liberdade desmorona e não mantém mais suas promessas de vida e felicidade. E então concluímos que também a liberdade é um engano e que a felicidade não existe.
A liberdade de cada um é um grande presente, que não admite meias medidas. Mas como todo dom é para ser acolhido, e nós o recebemos na medida em que abrimos a mente, o coração, a vida … Com os “mas, boh, talvez, eu não sei …”, simplesmente o recusamos, e isso prova não termos entendido do que se trata e o quanto é importante. Claro, dizer “sim” pode provocar medo, causar ansiedade, encher sua cabeça com pensamentos negativos.
Vocês sabiam que mesmo nos tempos de Jesus havia ansiedade? Não é uma invenção tão recente. Aos seus discípulos, ele diz claramente: “Não busquem ansiosamente” (cf. Lc 12,29), tenham fé! Tenham confiança! Distingam o que é importante do que não é: sejam sábios. E acrescenta: ” “Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:34).
Então devemos nos perguntar: onde está meu tesouro? Onde está a coisa que considero mais preciosa? Não muitas quinquilharias, mas a única pérola preciosa. Onde? Eis que essa é a fonte da minha alegria, é o lugar onde meu coração encontra casa, pelo qual vale a pena dizer “sim” e gastar sua vida. Deve ser realmente algo de imenso para valer assim tanto!
Então, amigos, entendam que a escolha do casamento, de formar uma família, ou a escolha de dedicar-se a Deus e aos irmãos na consagração é uma questão de ter encontrado este tesouro, o mais precioso. E agir de acordo. Porque é o Senhor que escondeu esse tesouro em sua vida para abençoá-la e torná-la frutífera. A escolha pelo tesouro significa escolher o caminho da gratidão e do reconhecimento, o caminho das bem-aventuranças.
Terceira pergunta é proposta por Dario, 27 anos, e diz respeito ao tema da fé e da busca de sentido.
Santo Padre, meu nome é Dario, tenho 27 anos e sou enfermeiro em cuidados paliativos.
Na vida são raros os momentos em que me confronto com a fé e nestas vezes entendi que as dúvidas superam as certezas, as perguntas que faço têm respostas pouco concretas e que eu não posso tocar com a mão, às vezes penso até mesmo que as respostas não são plausíveis.
Percebo que deveríamos empregar mais tempo nisto: é tão difícil em meio às muitas coisas que fazemos todos os dias … E não é fácil encontrar um guia que tenha tempo para o debate e a busca.
E depois existem as grandes perguntas: como é possível que um Deus grande e bom (assim me disseram dele) permite as injustiças no mundo? Por que os pobres e os marginalizados têm que sofrer tanto? Meu trabalho me coloca diariamente diante da morte e ver jovens mães ou pais de família abandonarem seus próprios filhos me faz perguntar: por que permitir isso?
A Igreja, mensageira da Palavra de Deus na terra, parece cada vez mais distante e fechada em seus rituais. Para os jovens, as “imposições” de cima já não são suficientes, precisamos de provas e de um testemunho sincero da Igreja que nos acompanhe e nos escute pelas dúvidas que a nossa geração coloca todos os dias. As glórias inúteis e os frequentes escândalos tornam a Igreja pouco credível aos nossos olhos.
Santo Padre, com que olhos podemos reler tudo isso?
Papa Francisco
Na oração do Pai Nosso, há um pedido: “Não nos induza à tentação”. Esta tradução italiana foi alterada recentemente, porque poderia parecer ambígua. Pode Deus Pai “nos induzir” à tentação? Ele pode enganar seus filhos? Claro que não. De fato, uma tradução mais apropriada é: «Não nos abandone à tentação». Nos impeça de fazer o mal, liberte-nos dos maus pensamentos … Às vezes as palavras, mesmo que falem de Deus, traem sua mensagem de amor. Às vezes somos nós que traímos o Evangelho.
Devemos nos escandalizar? Claro que podemos. Mas para que serve nos escandalizar-nos? Para se distanciar? Para se sentir melhor? Para decidir sair? Como se o rosto de uma Igreja autêntica não dependesse de cada um de nós, de cada batizado. O testemunho de fé e caridade entre os irmãos deve ser recíproco, circular, não haver alguém que testemunha e os outros fiquem assistindo, caso contrário, julgaremos a Igreja pelas notícias que passam na mídia e nos esquecemos quantas pequenas e escondidas obras de bem realizam os cristãos em nome do Senhor.
A Igreja não é só o Papa, bispos, os sacerdotes, mas todos os batizados, e cada um é convidado a torná-la mais rica de amor, mais capaz de comunhão, menos apegada às coisas terrenas. Se vocês, jovens, não participam da vida da Igreja, se não aceitam a mensagem do Evangelho, a Igreja fica mais pobre, perde a vitalidade! A beleza e a autenticidade da Igreja depende também de vocês. Os instrumentos para ouvir e compreender as boas palavras do Evangelho não faltam. Certamente cabe a vocês encontrar tempo, envolver-se nessa sabedoria repleta de doçura e de luz, mas também a mais subversiva que existe. Não se acredita se não acreditando, assim como não se ama se não amando.
Qual é o segredo? A oração É o diálogo com o Pai que dá alento à mente e ao coração. É na oração que as perguntas e súplicas de vocês encontrarão as palavras certas para subir ao céu. Então, mesmo diante do mal, da dor e da morte, vocês terão a força no Espírito Santo para acolher o mistério da vida e não perder a esperança”.
Após a terceira pergunta, uma jovem que perdeu a mobilidade de suas pernas foi levada ao palco. Com a ajuda de outra mulher (invisível aos olhos do público), ela executou uma pequena dança, dando a impressão de estar sentada. No final, ela foi ajudada a se levantar e sentar em uma cadeira de rodas. Um microfone foi levado a ela, que deixou uma breve mensagem de esperança. O Papa a saudou, sem acrescentar comentários e a Vigília de Oração então teve início.
“As famílias de hoje”: I Catequese preparatória ao IX Encontro Mundial das Famílias
A organização do IX Encontro Mundial das Famílias preparou uma série de catequeses preparatórias ao grande evento que se realizará em Dublin, de 21 a 26 de agosto, que iremos repropor nestes dias.
O tema da Primeira Catequese é “As famílias de hoje”
IX Encontro Mundial das Famílias – Foto: Vídeo Vatican News
“Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos angustiados, á tua procura”. (Lc 2,48) Maria, mulher da escuta, abre os nossos ouvidos; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu filho Jesus entre as mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontrarmos, especialmente aquela que é pobre, necessitada, em dificuldade. Maria, mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração,para que saibamos obedecer a Palavra do teu Filho Jesus, sem hesitação;Dá-nos a coragem da decisão, para não nos deixar arrastar para que outros orientem nossa vida. Maria, mulher de ação, faz com que as nossas mãos e pés se movem “com pressa” para os outros,para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus,para levar, como você, a luz do Evangelho ao mundo. Amém. Papa Francisco, Praça São Pedro 31 de maio de 2013)
Os Evangelhos nos narram poucas histórias sobre os acontecimentos da Sagrada Família de Nazaré. Muito é deixado ao nosso imaginário, considerando que foram cerca de trinta anos em que Jesus viveu em Nazaré com os seus. Os poucos episódios transmitidos tornaram-se fundamentais para compreender o mistério desta família.
A única história que nos apresenta Jesus aos doze anos (naquela época, a idade não era apenas de um menino, mas de uma pessoa que atingiu recentemente a idade da maturidade) que interage com seus pais, está no Evangelho de Lucas e é assim dita a história da “descoberta de Jesus no templo para discutir com os doutores da lei”.
Nós certamente esperamos a narração de uma página idílica da Sagrada Família, um pouco como a dos comerciais, em que todos os membros da família são lindos, sempre sorridentes e brilhantes, em total e absoluto entendimento mútuo, no entanto, com a nossa grande maravilha, o Evangelho nos dá outra história. Para usar um termo muito na moda hoje, a Família de Nazaré “entra em crise”.
Maria e José são pessoas muito religiosas, vão pontualmente todos os anos ao templo de Jerusalém para a festa da Páscoa, como nos narra Lucas, eles trazem com eles Jesus para educá-Lo também nesses ritmos religiosos, mas de repente, durante a viagem de retorno de Jerusalém, depois de uma jornada de caminhada, eles não encontram Jesus na comitiva.
Essa família vai para rezar, mas aparentemente sua oração e sua devoção religiosa não os preservam desse tipo de vicissitudes familiares. 2 Imaginemos o que Maria e José podem experimentar diante desse evento absolutamente imprevisto.
Um pai e, acima de tudo, uma mãe pode bem entender a angústia absurda em que um pai experimenta quando ele não encontra o filho e não saber onde procurá-lo. Portanto, esta Família Santa não nos causa uma boa impressão, não nos dá um bom testemunho e não pode ser-nos um exemplo.
Por que o evangelista Lucas nos mantém contando e deixando essa história dramática assim? Tudo isso destrói a maneira como pensamos desta Família, e certamente nos projeta para outra coisa, em outro lugar, em direção a um mistério maior que escapa à nossa compreensão.
Papa Francisco, então, em Amoris laetitia abre os nossos olhos precisamente sobre este mistério: «A Bíblia é povoada por famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares, desde a primeira página, onde entra em cena a família de Adão e Eva, com sua carga de violência, mas também com a força da vida que continua (cfr. Gên 4)» (Al 8).
A Palavra de Deus não nos apresenta de modo algum uma imagem idealista e abstrata de família, como esperávamos, mas oferece ao nosso olhar, diferentes histórias de famílias concretas, com a singularidade e unicidade de seus problemas, dificuldades e desafios.
A Palavra nos projeta em realidade com «a presença da dor, do mal, da violência que dilacera a vida da família e a sua intima comunhão de vida e de amor» (Al 19). Da mesma forma «apresenta o ícone da família de Nazaré, com sua vida quotidiana feita de trabalhos e até pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, uma experiência que é tragicamente repetida ainda hoje em muitas famílias de refugiados rejeitados e desamparados».
O ponto fundamental, então, não é a ausência de crise nas famílias (não há uma única família, nem mesmo a Sagrada Família, que esteja isenta), mas como reagir diante de qualquer crise. A história de Lucas em sua previsão e concretude oferece a todas as famílias as coordenadas fundamentais que tornam uma verdadeira escola de vida para todos.
À primeira vista, nós os pais de hoje, todos cuidando e prestando atenção aos nossos filhos, colheremos imediatamente a imprudência de José e Maria ao deixar o próprio Filho sozinho e desamparado durante um dia inteiro em sua viagem de volta para casa.
Na realidade, naquela cultura, Jesus não é mais considerado um menor, e é por isso que ele é tratado como um de sua idade. Além disso, no entanto, podemos compreender outro elemento mais profundo, dando-lhe um nome que é muito utilizado tanto na esfera social como na esfera eclesial: “desafio educacional”.
A este respeito, o Papa Francisco oferece a todos nós uma prospetiva indicação: «A obsessão, porém, não é educativa; e também não é possível ter o controle de todas as situações onde um filho poderá chegar a encontrar-se. […] Assim, a grande questão não é onde está fisicamente o filho, com quem está neste momento, mas onde se encontra em sentido existencial, onde está posicionado do ponto de vista das suas convicções, dos seus objetivos, dos seus desejos, do seu projeto de vida. Por isso, eis as perguntas que faço aos pais: «Procuramos compreender “onde” os filhos verdadeiramente 3 estão no seu caminho? Sabemos onde está realmente a sua alma? E, sobretudo, queremos sabê- lo?”» (Al 261).
Muitas vezes, estamos diante de tantos pais, todos cuidando para que seu filho possa aprender muitas atividades, como educativas, esportivas, artísticas, talvez empurrando-o para fazer coisas que eles mesmos gostariam de ter feito enquanto jovens, mas que nunca param com eles apenas para ouvir, por um momento, o mundo interior do seu coração. José e Maria correram esse risco, com toda a angústia que isso implica, e somente após três dias, três dias muito longos e intermináveis, encontram Jesus no templo.
A sua primeira reação é justamente o espanto, porque, como lemos em Amoris laetitia, «É inevitável que cada filho nos surpreenda com os projetos que brotam desta liberdade, que rompa os nossos esquemas; e é bom que isto aconteça. A educação envolve a tarefa de promover liberdades responsáveis, que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência; pessoas que compreendam sem reservas que a sua vida e a vida da sua comunidade estão nas suas mãos e que esta liberdade é um dom imenso.» (Al 262). O filho é sempre uma surpresa, é sempre um mistério para os pais desde a sua concepção.
«Com os progressos feitos pela ciência, é possível saber de antemão a cor que terá o cabelo da criança e as doenças que poderá ter no futuro, porque todas as características somáticas daquela pessoa estão inscritas no seu código genético já no estado embrionário. Mas, conhecê-lo em plenitude, só consegue o Pai do Céu que o criou: o mais precioso, o mais importante só Ele conhece, pois é Ele que sabe quem é aquela criança, qual é a sua identidade mais profunda.» (Al 170).
Portanto, diante do mistério do filho, a atitude mais verdadeira nunca pode ser a de julgamento, da desilusão, da acusação, da condenação. Quantas vezes essas declarações são provenientes dos lábios dos pais que realmente matam um filho: “Você não é o filho que eu esperava!”. Diante disto «reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe» (Al 165).
A atitude mais sagrada é a abertura para as surpresas de Deus. Tudo isso não é realizado de uma maneira espiritualista ou, nem menos, desumano. É claro que o inesperado aborrece, perturba e provoca angustias, como no caso de José e Maria, que com grande angústia estão à procura de Jesus. O Evangelho não desumaniza o coração do homem, mas respeita e dá voz aos sentimentos, que não são nem bons nem maus, e, ao mesmo tempo, ensina-nos como nos relacionar com nossos sentimentos: sempre devemos questionar-nos e perguntar.
Eles fazem uma pergunta a Jesus, antes é precisamente Maria, que em nome de ambos, pergunta a Jesus. As palavras que ela usa de uma forma extraordinária em poucas linhas nos abrem ao verdadeiro mistério da parentalidade: «Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura» (Lc 2,48). O filho sempre continua sendo um filho e, como tal, sempre deve ser chamado, reconhecido e amado.
Ao filho precisa sempre perguntar e questionar, nunca para ser acusado e condenado, e um pai nunca deve ter medo de se colocar no relacionamento com seu filho: “Porque você me fez isso?”. A situação em jogo não é a regra moral ou o dever ou o que é certo ou errado. O que mais importa é o relacionamento e, neste caso específico, a relação fundamental entre pais e filho. Maria vai ainda mais além. Ela evidencia não apenas a relação entre pais e filho, mas a relação entre pai e mãe e filho em sua completude e integridade.
É ela, a mãe, a falar não só em seu nome, mas primeiro em nome de seu pai e depois em seu nome. Por trás dessa sequência se ofusca uma ordem extraordinária da paternidade e da maternidade em relação à prole. Com razão, Papa Francisco afirma que «ambos «contribuem, cada um à sua maneira, para o crescimento duma criança. Respeitar a dignidade duma criança significa afirmar a sua necessidade e o seu direito natural a ter uma mãe e um pai».
Não se trata apenas do amor do pai e da mãe separadamente, mas também do amor entre eles, captado como fonte da própria existência, como ninho acolhedor e como fundamento da família. Caso contrário, o filho parece reduzir-se a uma posse caprichosa. Ambos, homem e mulher, pai e mãe, são «cooperadores do amor de Deus criador e como que os seus intérprete”. Mostram aos seus filhos o rosto materno e o rosto paterno do Senhor» (Al 172).
Porque é Maria e não José a falar? Porque ela menciona seu marido primeiro? Porque de que desde que o mundo é mundo, não podemos de modo algum negar a singularidade do relacionamento da mãe com o filho concebido e carregado em seu ventre: é ela quem «colabora com Deus, para que se verifique o milagre duma nova vida» (Al 168). Este carregar o filho dentro de si, em suas próprias entranhas, não é apenas um elemento anatômico ou fisiológico ou temporal da mãe, mas afirma uma dimensão permanente que caracteriza a maternidade da mulher.
Maria fala a Jesus porque ela tem um relacionamento de maior proximidade e intimidade com seu filho, mas ao mesmo tempo (uma coisa que deveriam aprender a fazer sempre todas as mães de hoje) ela atua como intermediária de José e afirma a antecedência da paternidade em relação a maternidade. Aqui estamos longe de um discurso cultural, social ou moral, ou ainda mais, machista, que afirma a prioridade do pai sobre a mãe. A história do Evangelho projeta nosso olhar muito mais longe, mais profundo e mais alto: o pai é como um sinal da Paternidade de Deus. Em vez disso, o que testemunhamos hoje?
Para «uma “sociedade sem pais”. Na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, distorcida, desvanecida.» (Al 176). O Evangelho então nos ilumina sobre uma verdade fundamental: «os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos. Farão de tudo para não o admitir, para não o revelar, mas precisam dele» (Al 177). Se Maria e José podem interagir como mãe e pai em relação a Jesus, é porque sua cumplicidade conjugal está viva.
Com que frequência esquecemos que o fundamento da parentalidade não é a prole (não nos tornamos pais unicamente com o nascimento natural do filho, e José é um testemunho concreto), mas com a conjugalidade do casal. De fato, a crise fundamental vivida hoje mais do que nunca pelas famílias preocupa-se precisamente com o analfabetismo 5 afetivo que parte da relação fundamental entre os cônjuges em todas as outras áreas, gerando a «“cultura do provisório”.
Refiro-me, por exemplo, à rapidez com que as pessoas passam duma relação afetiva para outra. Creem que o amor, como acontece nas redes sociais, se possa conectar ou desconectar ao gosto do consumidor e inclusive bloquear rapidamente. Penso também no medo que desperta a perspectiva dum compromisso permanente, na obsessão pelo tempo livre, nas relações que medem custos e benefícios e mantêm-se apenas se forem um meio para remediar a solidão, ter proteção ou receber algum serviço.
Transpõe-se para as relações afetivas o que acontece com os objetos e o meio ambiente: tudo é descartável, cada um usa e joga fora, gasta e rompe, aproveita e espreme enquanto serve; depois… adeus» (Al 39). Tudo isso desencoraja claramente a geração mais jovem em formar uma família, assustada pelo fracasso daqueles que fizeram essa escolha antes deles. Nesse sentido, a Família de Nazaré torna-se um farol não ideal, mas real, porque também, nas contradições e nos absurdos de seus acontecimentos de vida, mostra a todas as gerações «a alegria do amor» (Al 1) que se vive dentro de casa.
Por esta razão, o Santo Padre afirma resolutamente: «A aliança de amor e fidelidade, vivida pela Sagrada Família de Nazaré, ilumina o princípio que dá forma a cada família e a torna capaz de enfrentar melhor as vicissitudes da vida e da história. Sobre este fundamento, cada família, mesmo na sua fragilidade, pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo. “Aqui se aprende (…) uma lição de vida familiar.
Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu carácter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social”» (Al 66). Queremos aprender a ser uma família? Vamos jogar fora o modelo idealista que temos em nossa cabeça e olhemos para a Sagrada Família, que mostra a todos como os eventos críticos da vida são uma fonte inesgotável de graça e de santificação para o mundo inteiro.
Em Família
Para refletir
O que significa que uma crise familiar possa se tornar uma fonte inesgotável de graça?
Qual é a singularidade da maternidade ou da paternidade?
Prática
Certamente na sua vida familiar e conjugal há dificuldades, problemas, as chamadas “crises”. Como você lidou com elas? Como, por outro lado, você poderia enfrentá-las à luz da catequese que meditou?
Como você vive o seu ser pai ou sua mãe em relação ao cônjuge que Deus colocou ao seu lado? Como fazer o seu filho o u seus filhos experimentarem a inter-relação entre a paternidade e a maternidade?
Na Igreja
Para refletir
Porque diante da cultura do provisório não atrai a beleza da cultura do para sempre do amor? 2. Em que sentido a Paternidade de Deus é o fundamento de toda paternidade terrena? Prática 1. Como uma comunidade eclesial deve interagir com as múltiplas e frequentes crises familiares? Qual estilo, quais métodos, quais instrumentos, quais espaços e o que mais é chamada a oferecer?
Ser pai e ser mãe é a missão mais difícil e mais complexa. Como a Igreja é chamada a levar a sua contribuição nesta missão singular e única?
Papa: não reduzir a religião somente à prática da Lei
“É uma tentação comum, esta, de reduzir a religião à prática das leis, projetando em nosso relacionamento com Deus a imagem da relação entre os servos e seus patrões: os servos devem executar as tarefas que o patrão designou, para ter a sua benevolência”, disse o Papa em sua alocução.
Resistir à tentação de “reduzir a religião somente à prática das leis, projetando em nossa relação com Deus a imagem da relação entre os servos e seus patrões”.
Papa Francisco da janela do apartamento pontifício – Foto: Vatican Media
No Angelus deste XVIII Domingo do Tempo Comum, falando aos milhares de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro a uma temperatura de 30ºC, o Papa exortou a “cultivar nossa relação” com Jesus, “fortalecer nossa fé n’Ele, que é o “pão da vida”.
Inspirado no Evangelho de João proposto pela liturgia deste domingo, o Papa recorda que “a Jesus não basta que as pessoas o procurem, ele quer que as pessoas o conheçam; quer que a busca por Ele e o encontro com Ele ultrapasse a satisfação imediata das necessidades materiais”:
“Jesus veio para nos trazer algo mais, a abrir a nossa existência a um horizonte mais amplo em relação às preocupações cotidianas do alimentar-se, vestir-se, da carreira e assim por diante. Por isso, voltando-se a multidão, exclama: «Me buscais não porque vistes sinais, mas porque comestes daqueles pães e vos saciastes»”.
Desta forma, “estimula as pessoas a darem um passo em frente, a interrogarem-se sobre o significado do milagre e não apenas para tirar proveito dele”.
O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes – explicou Francisco – “é sinal do grande dom que o Pai deu à humanidade, que é o próprio Jesus!”:
“Ele, verdadeiro “pão da vida”, quer saciar não apenas os corpos, mas também as almas, dando o alimento espiritual que pode satisfazer a fome mais profunda. Por isso convida a multidão a procurar não a comida que não dura, mas aquela que permanece para a vida eterna. Trata-se de um alimento que Jesus nos dá todos os dias: sua Palavra, seu Corpo, seu Sangue”.
Também nós – como a multidão na época – ouvimos o convite de Jesus, mas não entendemos seu significado. As pessoas pensam que Jesus pede a elas “para observarem os preceitos para obter outros milagres, como a multiplicação dos pães”:
“É uma tentação comum, esta, de reduzir a religião somente à prática das leis, projetando em nossa relação com Deus a imagem da relação entre os servos e seus patrões: os servos devem executar as tarefas que o patrão determinou, para ter a sua benevolência. Isto o sabemos todos”.
À multidão que quer saber de Jesus que ações deve fazer para agradar a Deus, Jesus dá uma resposta inesperada: “A obra de Deus é que vocês acreditem naquele que ele enviou”:
“Essas palavras são dirigidas também a nós hoje: a obra de Deus não consiste tanto no “fazer” coisas, mas em “crer” n’Aquele que Ele enviou. Isto significa que a fé em Jesus nos permite realizar as obras de Deus. Se nos deixarmos envolver nesta relação de amor e confiança com Jesus, poderemos fazer boas obras que perfumam de Evangelho, pelo bem e às necessidades dos irmãos”.
E se é importante preocupar-nos com o pão – disse o Papa – mais importante ainda “é cultivar nossa relação com Ele, fortalecer nossa fé n’Ele, que é o “pão da vida”, vindo para saciar a nossa fome de verdade, a nossa fome de justiça, a nossa fome de amor”.
“Que a Virgem Maria – disse ao concluir – no dia em que recordamos a dedicação da Basílica de Santa Maria Maior – a Salus populi romani – em Roma, nos sustente em nosso caminho de fé e nos ajude a nos abandonarmos com alegria ao plano de Deus para nossas vidas”.
Perdão de Assis, uma porta aberta para a reconciliação
O Perdão de Assis é celebrado anualmente nos dias 1° e 2 de agosto, e representa um momento ímpar para a experiência da reconciliação.
A Porciúncula dentro da Basílica de Santa Maria dos Anjos
Nos dias 1º e 2 de agosto será celebrado o Perdão de Assis. De maneira especial – e não só – na Porciúncula, que é uma “porta sempre aberta” para todos aqueles que querem alcançar a graça de Deus por meio da experiência da reconciliação.
O Papa Francisco assim referiu-se à Porciúncula: “O caminho espiritual de São Francisco teve início em São Damião, mas o verdadeiro lugar amado, o coração pulsante da Ordem, onde a fundou e onde, por fim, entregou sua vida a Deus, foi a Porciúncula, a ‘pequena porção’, o cantinho junto à Mãe da Igreja; junto a Maria que, por sua fé tão firme e por seu viver tão inteiramente do amor e no amor com o Senhor, todas as gerações a chamarão bem-aventurada.”
No dia do Perdão, tal graça é vivida por milhares de peregrinos de todas as idades, desejosos de atravessar a “porta da vida eterna” e receber o dom da Indulgência Plenária.
Diversos eventos ajudarão os peregrinos a “entrar e viver em plenitude este tempo de graça”, conforme um comunicado da secretaria da Basílica de Santa Maria dos Anjos, no interior da qual está a Porciúncula.
Antes de tudo, a presença na Porciúncula do Saio dos estigmas de São Pio de Pietrelcina. De fato, o hábito que o frei capuchinho vestia no dia em que recebeu do Senhor os estigmas, estará exposto para a veneração dos fiéis de 29 de julho a 2 de agosto.
Em 29 de julho, às 19 horas, terá início o Tríduo em preparação ao Perdão. As meditações do Bispo de Gubbio, Dom Luciano Paolucci Bedini, introduzirão os peregrinos na celebração da misericórdia obtida por São Francisco na igreja Santa Maria dos Anjos.
A quarta-feira, 1º de agosto, marca a abertura da Solenidade do Perdão. Às 11 horas, como de costume, o Ministro geral da Ordem dos Frades Menores, padre Michael Perry, presidirá a Solene Celebração Eucarística, que terminará com a Procissão de “Abertura do Perdão”, assim denominada pois, a partir daquele momento até às 24 horas do dia 2 de agosto, a Indulgência Plenária concedida à Porciúncula se estende a todas as igrejas paroquiais espalhadas no mundo e também a todas as igrejas franciscanas.
Às 19 horas, as Primeiras Vésperas serão presididas pelo bispo de Assis – Nocera – Umbra, Dom Domenico Sorrentino. Seguirá a oferta de incenso pela Prefeita de Assis, Stefania Proietti.
A tradicional Vigília de Oração terá lugar às 21h15, com procissão luminosa, e será conduzida pelo padre Giuseppe Renda, Custódio da Porciúncula.
No dia 2 de agosto será possível participar de numerosas Celebrações Eucarísticas, algumas celebradas por Dom Domenico Sorrentino, Dom Luciano Paolucci Bedini e pelo padre Claudio Durighetto, Ministro Provincial dos Frades Menores da Úmbria e Sardenha.
A partir das 14h30, os jovens participantes de XXXVIII Marcha Franciscana – provenientes de todas as regiões da Itália e de outros países – passarão pela porta da Porciúncula, após terem caminhado por mais de uma semana, guiados pelo tema “Com um nome novo”.
Às 19 horas, as Vésperas Solenes do Perdão conduzidas pelo padre Claudio Durighetto.
Durante os dois dias da festa, a Basílica permanecerá aberta durante todo o dia para permitir aos peregrinos aproximarem-se do Sacramento da Reconciliação
Já na Praça da Basílica, serão realizados cinco espetáculos, que incluem Gloriosus Francisuc com Michele Placido, Concerto da Orquestra Sinfônica russa, “In viaggio con Maria”, Concerto do Perdão da Banda da Gendarmaria Vaticana, o balé Le due vie.
Origem da Porciúncula
A igrejinha, hoje chamada “Porciúncula”, foi construída no ano 352, originalmente como uma Capelinha, por quatro piedosos eremitas provenientes da Palestina.
Esta Capelinha, que fora dedicada à Virgem Santíssima, foi confiada no século VI aos Monges Beneditinos do Monte Subásio, que a ampliaram e ornamentaram.
Devido à pequena “porção de terra” de que os Monges dispunham, a Capelinha foi chamada “Porciúncula”, quer dizer, “porçãozinha” ou “pequena porção”. Com o tempo, passou a ser chamada “Santa Maria dos Anjos” por causa das frequentes aparições dos Anjos.
Reconstrução
Quando Francisco de Assis se converteu, enveredando o caminho da santidade, viu que a Capelinha estava completamente arruinada. Então, em virtude da ardorosa devoção que nutria pela Mãe de Deus, ele a reconstruiu e a ganhou do Abade Teobaldo, monge beneditino. Para ali Francisco se retirou com os seus companheiros, ao ser obrigado a abandonar o Tugúrio de Rivotorto.
Certa noite de inverno, no ano 1216, enquanto o Pobrezinho de Assis, tomado pelo zelo ardente de levar os pecadores à conversão e à salvação, foi circundado por uma luz suave: um Anjo o convidou a ir à Capelinha, onde era aguardado por Jesus, sua Mãe Santíssima e muitos Anjos.
Ao chegar à Capelinha, Francisco se prostrou e adorou a Jesus e venerou a Virgem e os Anjos. Vendo a sua humildade e desprendimento, Jesus lhe deu a possibilidade de pedir uma graça que mais o agradasse. Então, como um novo Moisés, Francisco não pensou em si, mas em todas as almas e respondeu: “Senhor, peço que todos aqueles que, arrependidos e confessados, entrando nesta igrejinha, tenham o perdão de todos os seus pecados e a completa remissão das penas devidas às suas culpas”. E Jesus lhe disse: “Grande é a graça que me pedes, Francisco; no entanto, eu lha concedo, por intermédio da minha Mãe”. Assim, ele invocou a mediação de Nossa Senhora, que a concedeu pela súplica ao seu Filho Divino. Porém, o Senhor pediu-lhe para se apresentar ao seu Vigário na terra, o Sumo Pontífice, para obter a confirmação da graça.
Indulgência
Dito isto, a visão de Francisco cessou. Ele, imediatamente, foi até ao Papa Honório III, que, depois de várias dificuldades, lhe confirmou a graça, limitando-a, porém, apenas a um dia, por todos os anos, fixando a sua data para o dia 2 de agosto, começando com as Vésperas da Vigília.
Assim, em 2 de agosto de 1216, na presença dos Bispos de Assis e das regiões vizinhas, convidados para a consagração da igrejinha da “Porciúncula” e diante de uma multidão extraordinária de fiéis, São Francisco promulgou a “grande indulgência”, concedendo o incomparável tesouro do “Perdão de Assis” a todos os homens de boa vontade.
Extensão da indulgência
Com a Bula de 4 de julho de 1622, o Papa Gregório XV estendeu esta “Indulgência da Porciúncula” a todas as igrejas da Ordem Franciscana. Em 12 de janeiro de 1678, o Papa Inocêncio XI declarou que esta indulgência podia ser aplicada também às almas do Purgatório.
Para facilitar o “Perdão de Assis” aos fiéis do mundo inteiro, o Papa Pio X deu a possibilidade de obtê-lo também nas igrejas ou oratórios. Por sua vez, Bento XV, em 16 de abril de 1921, com o um solene documento, estendeu esta indulgência a todos os dias do ano, mas, de modo solene, na Basílica de Santa Maria dos Anjos, em Assis. Assim se concretizou o desejo de São Francisco.
Mensagem do Papa a encontro em Fátima das Equipes de Nossa Senhora
A mensagem serve-se do tema dos trabalhos do encontro, centralizados na figura do filho pródigo, para relançar a exortação do Pontífice “a reconhecer-se neste filho perdido que retorna ao Pai que não se cansa de abraçá-lo e lhe restitui a sua grandeza de filho”.
Papa Francisco durante visita apostólica a Fátima
A saudação do Papa Francisco com a sua asseguração de que “a Igreja condena o pecado, porque deve dizer a verdade, mas ao mesmo tempo abraça o pecador que se reconhece tal” oferecendo-lhe a “infinita misericórdia de Deus”, chegou aos participantes do 12º Encontro Internacional das Equipes Notre-Dame (Equipes de Nossa Senhora) em andamento em Fátima, de 16 a 21 de julho, mediante uma mensagem lida pelo núncio apostólico em Portugal, o arcebispo Rino Passigato.
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A parábola do filho pródigo
Endereçada a Maria Berta e José Moura Soares, casal responsável internacional pelas Equipes de Nossa Senhora, a mensagem serve-se do tema dos trabalhos, centralizados na figura do filho pródigo, para relançar a exortação do Pontífice “a reconhecer-se neste filho perdido que retorna ao Pai que não se cansa de abraçá-lo e lhe restitui a sua grandeza de filho”.
“Tocados por tão grande benevolência – prossegue a mensagem – deixem seus corações se expressar: é verdade, Senhor! Sou um pecador, uma pecadora; assim me sinto e assim sou. Perdi-me. De mil modos fugi de teu amor, porém, estou aqui outra vez para renovar minha aliança contigo. Preciso de Ti. Resgata-me novamente Senhor! Aceita-me, mais uma vez, entre teus braços redentores.”
Ninguém está excluído da misericórdia de Deus
De resto, esclarece a mensagem, os braços abertos de Cristo “na cruz demonstram que ninguém está excluído do amor do Pai nem da sua misericórdia”. Efetivamente, Ele “não se resigna a perder ninguém: marido ou mulher, pais ou filhos… aos olhos de Jesus, ninguém está perdido para sempre, há apenas pessoas que devem ser reencontradas, e Jesus nos impele a sair para buscá-las”.
Porque “se quisermos encontrar o Senhor, devemos buscá-lo onde Ele deseja encontrar-nos e não onde nós desejamos encontrá-lo”, conclui.
Programa dos dias de encontro
Animadas pelas meditações diárias do arcebispo eleito José Tolentino Calaça de Mendonça – que após ter pregado os exercícios espirituais para a Cúria Romana foi nomeado pelo Papa Francisco arquivista e bibliotecário de Santa Romana Igreja –, os dias congressuais na cidadezinha mariana foram marcados por momentos de reflexão, de oração comum, de celebração e de testemunho.
Hoje, após setenta anos de vida, o movimento fundado por Henry Cafarrel está presente nos 5 continentes, em 95 países, com mais de 13.500 Equipes de Nossa Senhora.
Vida humana: Papa Francisco propõe uma visão global da bioética
O Papa Francisco concluiu sua série de audiências recebendo os participantes da Plenária da Pontifícia Academia para a Vida. A Plenária se realiza no Vaticano de 25 a 27 de junho, sobre o tema “Iguais no nascimento? Uma responsabilidade global”.
Papa Francisco e o Cardeal Elio Sgreccia – Foto: Vatican Media
No início do seu discurso, o Pontífice agradeceu publicamente o empenho e a dedicação do Cardeal Elio Sgreccia, um dos maiores especialistas em bioética do mundo e presidente da Pontifícia Academia para a Vida no passado. Hoje, este cargo é ocupado pelo arcebispo Vincenzo Paglia.
Para Francisco, quando se fala de vida humana é preciso considerar a qualidade ética e espiritual da vida em todas as suas fases: desde a concepção até a morte. Mas não só a vida biológica: existe a vida eterna, existe a vida que é família e comunidade, existe a vida humana frágil e doente, ofendida, marginalizada, descartada. “É sempre vida humana”, reiterou o Papa.
A síndrome de Narciso
“Quando entregamos as crianças à privação, os pobres à fome, os perseguidos à guerra, os idosos ao abandono, não fazemos nós mesmos o trabalho ‘sujo’ da morte?”, questionou o Pontífice.
Excluindo o outro do nosso horizonte, a vida se fecha em si mesma e se torna bem de consumo. Como Narciso, acrescentou Francisco, nos tornamos homens e mulheres-espelho, que veem somente a si mesmos e nada mais.
Visão global da bioética
Por isso, é necessária uma visão global da bioética. Em primeiro lugar, explica o Papa, esta bioética global será uma modalidade específica para desenvolver a perspectiva da ecologia integral, própria da Encílica Laudato si’. Portanto, temas como a relação entre pobreza e fragilidade do planeta, a crítica ao novo paradigma e às formas de poder, a cultura do descarte e a proposta de um novo estilo de vida.
Em segundo lugar, um discernimento meticuloso das complexas diferenças fundamentais da vida humana: do homem e da mulher, da paternidade da maternidade, a fraternidade, a sexualidade, a doença, o envelhecimento, a violência e guerra.
Defender a sacralidade da vida
Para Francisco, a sacralidade da vida embrional deve ser defendida com a mesma paixão que a sacralidade da vida dos pobres que já nasceram.
A bioética global, portanto, requer um discernimento profundo e objetivo da valor da vida pessoal e comunitária, que deve ser protegida e promovida também nas condições mais difíceis.
Todavia, observou o Papa, a regulamentação jurídica e a técnica não são suficientes para garantir o respeito à dignidade da pessoa.
A perspectiva de uma globalização que tende a aumentar a aprofundar as desigualdades pede uma resposta ética a favor da justiça. Por isso é importante estar atentos a fatores sociais e econômicos, culturais e ambientais que determinam a qualidade de vida da pessoa humana.
Destino último da vida humana
Por fim, é preciso se interrogar mais profundamente sobre o destino último da vida.
“A vida do homem, encantadora e frágil, remete além de si mesma: nós somos infinitamente mais daquilo que podemos fazer para nós mesmos”. “A sabedoria cristã – concluiu o Papa – deve reabrir com paixão e audácia o pensamento do destino do gênero humano à vida de Deus, que prometeu abrir ao amor da vida além da morte”.
Papa convida a acompanhar e apoiar os sacerdotes com amizade
O Santo Padre pede que os fiéis ajudem os sacerdotes em seu trabalho e ressalta a importância de apoiá-los nas situações de solidão. Ele faz este pedido através da nova edição de O Vídeo do Papa, realizado pela Rede Mundial de Oração do Papa.
O Vídeo do Papa – Foto: Vatican Media
Acompanhar e apoiar os sacerdotes: esta é a intenção de oração proposta pelo Papa Francisco neste mês de julho.
“Rezemos juntos para que os sacerdotes que vivem com dificuldade e na solidão o seu trabalho pastoral se sintam ajudados e confortados pela amizade com o Senhor e com os irmãos”, afirma o Pontífice em seu sétimo vídeo do ano. “Nesses momentos, é bom lembrar que as pessoas amam seus pastores”, acrescenta.
Segundo a última edição Anuário Pontifício, no mundo existe 415.656 sacerdotes. 37,4% se concentram na América, seguida da Europa com 31,6%, da Ásia com 15,1%, África com 13, 4% e, por último, Oceania com 2,5% dos presbíteros. Todos eles devem desenvolver seu trabalho pastoral para alcançar os mais de 1,2 bilhão de católicos distribuídos pelos cinco continentes.
“O cansaço dos sacerdotes… sabem quantas vezes penso nisto?”, reflete o Papa. “Diante de tantos desafios, não podem ficar parados depois de uma desilusão.”
“A missão que o Senhor confia aos seus ‘pastores’ implica uma total entrega ao serviço dos outros e da missão, o que é muito exigente e, sem uma profunda amizade com o Senhor, sem oração, e o apoio de uma comunidade, isso não é possível. Por isso o Papa convida a acompanhar com amizade os sacerdotes”, comenta o Pe. Frédéric Fornos, SJ, Diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa e do Movimento Eucarístico Juvenil.