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Crer em Deus é, portanto, crer na misericórdia

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Oitava meditação: “Crer em Deus é, portanto, crer na misericórdia”

 

Padre José Tolentino Mendonça, sacerdote português convidado pelo Papa Francisco para pregar o retiro anual da Cúria Romana, fala na sua oitava meditação sobre o poder restaurador da misericórdia de Deus.

Casa Divino Mestre em Ariccia (Foto: Vatican Media)

Casa Divino Mestre em Ariccia (Foto: Vatican Media)

 

“De verdade é importante a experiência de relação que ali se manifesta – parábola do filho prodigo – e se recompõe. (…) temos a oportunidade de observar as nossas mesmas passagens, externas e interiores, e de olhar com profundidade a nossa história.” Assim inicia, Padre José Tolentino Mendonça, sacerdote português que está pregando o retiro ao Papa e seus colaboradores.

 

Na meditação sobre a parábola do filho prodigo, quando se refere ao filho mais novo Padre Jose fala que “é uma história que nos pega dentro. E nesse espelho tem tudo: o desejo de liberdade do filho mais jovem, os seus sonhos sem fundamento, os passos falsos, a fantasia da onipotência, a sua incapacidade de reconciliar desejos e leis. Com um resultado previsível: o vazio e a solidão. Se descobrira completamente sozinho”.

 

Fazendo uma comparação, o filho mais velho, segundo o pregador ressalta que ele tem “a dificuldade de viver a fraternidade, a recusa de alegrar-se do bem do outro, e a incapacidade de viver a lógica da misericórdia. Não consegue resolver a relação com seu irmão, ainda cheia de agressividade, com uma barreira e violência. E nem mesmo a relação com o Pai é totalmente integrada: ele nutre ainda a expectativa da recompensa.”

 

“No filho mais velho não é o problema com a lei, mas com a generosidade do amor. E isto é uma das doenças dos desejos”. E afirma que todos nós somos também assim: “contradições de sentimentos. E está completa ambivalência humana, é o maior elogio da misericórdia de Deus, que a parábola, ilumina.”

 

E afirma ainda, que “dentro de nós, em verdade não existem somente coisas bonitas, harmoniosas e resolvidas.  Dentro de nos existem sentimentos sufocados, tantas coisas que devem se tornar claras, doenças, inúmeros fios para se conectarem. Existem sofrimentos, âmbitos que devem ser reconciliado, memorias e fissuras que se devem deixar Deus curar.

 

A pergunta é: a que ponto nos deixamos reconciliar? Mas reconciliar profundamente, com a lógica do Evangelho, e no mais profundo de nós?”

 

Reforçando ainda mais a importância da misericórdia, afirma que “este excesso de amor que Deus nos ensina, está em condições de resgatar-nos. Cada um de nós possui uma riqueza interior, um mundo de possibilidades, mas também limites com os quais, em um caminho de conversão, é necessário confrontar-se”.

 

Comparando os desejos, afirma eu os errados, ou como define de “os desejos soltos – uma realidade que o nosso tempo promove – desencadeia em nós movimentos errados e irresponsáveis, a pura inconstância, o hedonismo e um rodamoinho enganador”. E que os verdadeiros “ao invés, é assinalado com uma carência, uma insatisfação, de uma sede que vem de um princípio dinâmico e projetivo. O desejo é literalmente insaciável, pois aspira a isto que não pode ser possuído: o senso. Assim, o desejo não se sacia: se aprofunda.”

 

Quando chega especificamente na figura do Pai –na parábola- reflete o poder curador da sua misericórdia. O Pai sabe que “tem dois filhos e entende que deve relacionar-se com eles de modo diferente, reservar a a cada um, olhares diferentes”, cada um com os seus desejos. Nesta reflexão sobre o Pai, Padre Jose diz:

 

“Jesus não perde tempo explicando a razão porque o filho mais jovem quer ir embora, mas que o Pai aceita o espaço que o filho pretende, acolhe o risco da sua liberdade, e simplesmente o ama. E que depois no seu retorno, cobre de beijos aquela vida infeliz, e a faz totalmente amável”.

 

E não somente os desejos do filho mais novo deve ser curado pela misericórdia, diz o pregador, mas também os do seu primogênito. “O Pai vai ao seu encontro. O Pai da dignidade a indignação do filho mais velho, vai escuta-lo, sai, desce para busca-lo. Essa misericórdia de escutar os outros até o fim. E a misericórdia gera uma das mais belas declarações de amor que um Pai possa dedicar ao filho:

 

‘Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é teu” (Lc 15, 31).

 

Para concluir, afirma sobre a misericórdia: “A misericórdia é isso. Um dever a qual ninguém nos obriga, mas uma obrigação que nasce da esperança. É o bem mais precioso e deve ser vitoriosa sobre todas as mortes. Quem crê que a misericórdia seja fácil, é porque nunca a viveu e nem a experimentou. A misericórdia está entre as coisas mais exigentes e que exigem empenho. Porém não tem vida sem misericórdia.

 

A misericórdia é um dos atos soberanos de Deus. Crer em Deus é, portanto, crer na misericórdia”.

 

Fonte: Vatican News

Prepare-se para a Quaresma

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Prepare-se para a Quaresma

 

Quaresma é tempo de conversão. É um tempo especial de graças que, devemos aproveitar ao máximo, para fazermos uma renovação espiritual em nossa vida. São Paulo insistia: “Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 5, 20); “exortamos-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: ‘Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação’ (Is 49,8)”. “Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação” (2 Cor 6, 1-2). Eis algumas práticas que podem nos ajudar a viver bem este tempo:Quaresma

 

1- Quarta-feira de Cinzas

Comece bem a Quaresma recebendo as Cinzas e meditando o seu significado: “voltamos ao pó” que as cinzas lembram. “És pó, e ao pó tu hás de tornar” (Gen 2, 19). Este sacramental da Igreja lembra-nos de que, estamos de passagem por este mundo, e que a vida de verdade, sem fim, começa depois da morte; e que, portanto, devemos viver em função disso.

 

2 – Oração

Intensifique a oração. Seja a oração pessoal ou comunitária. Orar é entrar em comunhão com Deus; tornar-se íntimo de d’Ele que é nosso Pai. Marque um tempo para rezar e obedeça o previsto.

 

3 – Palavra de Deus

Medite a Palavra de Deus, sobretudo, as leituras que a Igreja coloca na Liturgia da Missa neste tempo. Decida, com uma ato de vontade, a fazer o que Deus te pede na meditação.

 

4 – Jejum

Faça o jejum conforme as próprias condições, para que o corpo seja sujeito ao espírito. Pode ser um jejum a pão e água, um jejum só de líquidos, um jejum parcial, etc., especialmente nas sextas-feiras.

 

5 – Esmola

Dê uma boa esmola aos pobres. Pode ser de muitas formas: ajudar uma família necessitada; um pobre necessitado, etc. “Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados” (S. Francisco).

 

6 – Visitar os doentes

Visite os doentes que precisam de ajuda, sobretudo os velhos e abandonados. “Aqueles que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes” (Mt 9,12).

 

7 – Confissão

Faça uma boa confissão geral, depois de um bom exame de consciência, revendo toda a vida passada. Não omita nada, lance em Deus todas as suas misérias. Perdoe todas as pessoas que te ofenderam.

 

8 – Santa Missa

Participe da Santa Missa sempre que puder, e comungue bem. Faça uma boa ação de graças após a comunhão, colocando toda a sua vida para Jesus. Louve-O, adore-O, interceda pela Igreja, pela sua família, etc.

 

9 – Via Sacra

Participe da Via Sacra sempre que puder, ou a faça você mesmo em uma Igreja, acompanhando os quadros que a compõem, meditando o sofrimento de Jesus na Sua Paixão.

 

10 – Exercício de mortificação

Faça algum exercício de mortificação; por exemplo, cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, internet, celular, alguma diversão, etc., para vencer as fraquezas da carne.

 

11 – Liturgia das Horas

Reze a Liturgia das Horas com toda a Igreja neste tempo forte de orações. Ao menos as Laudes e as Vésperas, se tiver condições.

 

12 – Peregrinação

Faça uma peregrinação, ao menos uma vez na Quaresma, a um Santuário Mariano, ou outro Santuário, participando da Santa Missa.

 

13 – Moderar as palavras

Esforce-se para moderar suas palavras, fale com discrição, evite a maledicência, o julgamento dos outros, o falar mal dos outros, prefira elogiar a criticar.

 

14 – Perseverança

Procure identificar se você tem algum vício ou mal comportamento, lute para evita-lo; reze pedindo a Deus a graça de vencê-lo. Pratique a virtude da perseverança.

 

15 – Humildade

Evite falar de você mesmo, de se exibir, de querer aparecer, de defender seus pontos de vista de maneira acirrada. Procure o último lugar, viva a humildade.

 

Autor: Prof. Felipe Aquino

Fonte: Canção Nova

Papa pede coerência em nosso jejum

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Papa pede coerência em nosso jejum

 

Na Missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta, o Santo Padre exorta a evitarmos um jejum fingido, para ser visto pelos outros, mas que o nosso jejum seja “disfarçado pelo sorriso” e chegue aos outros.Papa e o jejum

 

Jejuar com coerência e não para aparecer. Na homilia da Missa na Casa Santa Marta, o Papa Francisco advertiu quanto ao jejum incoerente, exortando a nos questionar sobre como nos comportamos com os outros.

 

Na primeira leitura, extraída do livro do Profeta Isaías (Is 58,1-9a), fala-se do jejum que o Senhor quer: “quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim romper todo tipo de sujeição”.

 

O jejum é uma dos deveres da Quaresma, recordou o Papa. “Se não puder fazer um jejum total, que faz sentir fome até os ossos, “faça um jejum humilde, mas verdadeiro”, pediu o Papa.

 

É Isaías que evidencia as inúmeras incoerências na prática da virtude: cuidar dos próprios interesses, o dinheiro, enquanto o jejum é “um pouco despojar-se”; fazer penitência em paz : “não pode, de um lado, falar com Deus e, de outro, falar com o diabo”, porque é incoerente, advertiu o Francisco.

 

“Não jejuem mais como fazem hoje, de modo que se ouça o barulho”, ou seja, nós jejuamos, nós somos católicos, somos praticantes; eu pertenço àquela associação, nós jejuamos sempre, fazemos penitência. Mas, vocês jejuam com coerência ou fazem a penitência incoerentemente como diz o Senhor, com barulho, para que todos vejam e digam: “Mas que pessoa justa, que homem justo, que mulher justa…” Este é um disfarce; é maquiar a virtude“.

 

É preciso disfarçar, mas seriamente, com o sorriso, isto é, não mostrar que está fazendo penitência. “Procura a fome para ajudar os outros, mas sempre com o sorriso”, exortou o Santo Padre.

 

O jejum consiste também em humilhar-se e isso se realiza pensando nos próprios pecados e pedindo perdão ao Senhor.  “Mas, se este pecado que eu cometi fosse descoberto, fosse publicado nos jornais, que vergonha!” –  “Pois bem, envergonha-te!”, disse o Papa, convidando também a quebrar as cadeias injustas.

 

“Eu penso a tantas domésticas que ganham o pão com o seu trabalho: humilhadas, desprezadas… Nunca pude esquecer uma vez que fui a casa de um amigo quando criança. Vi a mãe dar um tapa na doméstica.  81 anos… Não esqueci aquilo. “Sim, não Pai, eu nunca dou um tapa” – “Mas como os trata? Como pessoas ou como escravos? Pagas a eles o justo? Dás a eles as férias, é uma pessoa ou um animal que te ajuda em casa?”.  Pensem somente nisto. Nas nossas casas, nas nossas instituições, existe isto. Como eu me comporto com a doméstica que tenho em casa, com as domésticas que estão em casa?”

 

Então, um outro exemplo nascido de sua experiência pessoal. Falando com um senhor muito culto que explorava as domésticas, o Papa o fez entender que se tratava de um pecado grave, porque são “como nós, imagem de Deus”, enquanto ele sustentava que eram “pessoas inferiores”.

 

O jejum que o Senhor quer – como recorda ainda a Primeira leitura – consiste em “partilhar o pão com o faminto, no acolher em casa os miseráveis, sem-teto, em vestir os nus, sem negligenciar o teu sangue”.

 

“Hoje – observa Francisco – se discute se damos o teto ou não àqueles que vem pedi-lo”.

E, ao concluir, exorta a fazer penitência, a “sentir um pouco a fome”, a “rezar mais” durante a Quaresma e a perguntar-se como se comporta com os outros:

 

O meu jejum chega a ajudar os outros? Se não chega, é fingido, é incoerente e te leva pelo caminho da vida dupla. Faço de conta ser cristão, justo…. como os fariseus, como os saduceus. Mas, por dentro, não o sou. Peça humildemente a graça da coerência. A coerência. Se eu não posso fazer algo, não a faço. Mas não fazê-la incoerentemente. Fazer somente aquilo que eu posso fazer, mas com coerência cristã. Que o Senhor nos dê esta graça”.

 

Ouça o áudio da reportagem abaixo:

 

Fonte: Vatican News

Papa: acolher as vítimas do tráfico humano com misericórdia

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Papa: acolher as vítimas do tráfico humano com misericórdia

 

Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico Humano celebrado no Vaticano com inúmeras iniciativas do Papa e da Santa Sé.

Dia de Oração e Reflexão - Tráfico Humano

“Com espírito de misericórdia, acolhamos as vítimas do tráfico de pessoas e aqueles que fogem da guerra e da fome”: esta é a mensagem no Twitter com a qual o Papa Francisco recorda hoje a celebração do Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas.

 

Trata-se da quarta edição de uma iniciativa proposta aos fiéis pelo próprio Papa Francisco, no dia em que a Igreja recorda a memória da Santa Josefina Bakhita, que também ela sofreu em primeira pessoa os dramas do tráfico e da escravidão.

 

Ao instituir este Dia, o Pontífice confiou sua organização à União das Superioras Gerais, de modo especial à rede das religiosas contra o tráfico, Talitha Kum.

 

A coordenadora, Ir. Gabriella Bottani, concedeu uma entrevista ao Vatican News. Ela comenta a escolha do tema deste ano – migração e tráfico de pessoas – e as palavras do Pontífice pronunciadas na Audiência Geral da quarta-feira (07/02), em que Francisco pede a conversão dos traficantes:

 

Ouça a entrevista com a Ir. Gabriella Bottani

 

 

Grupo Santa Marta

 

Outra iniciativa do Papa Francisco para combater a chaga social do tráfico humano foi a criação do chamado “Grupo Santa Marta”, que dá início às atividades de 2018 reunindo-se hoje e amanhã na Casina Pio IV, no Vaticano. Do Brasil, participa a Ir. Rosita Milesi MSCS, presidente do Instituto Migrações e Direitos Humanos, representando o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). Já a brasileira Ir. Marinês Biasibetti representa a Comissão Episcopal para Migrantes Refugiados e Deslocados da Igreja em Moçambique.

 

Este grupo, criado três anos atrás, é liderado pelo arcebispo de Westminster e presidente da Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales, cardeal Vicent Nichols, com a participação de instituições policiais, além de bispos, sacerdotes e consagrados que lutam contra o tráfico.

 

Na segunda-feira, o Papa concede uma audiência aos promotores do Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas e expoentes do Grupo Santa Marta.

 

Dia Mundial contra o Tráfico Humano: a solidariedade do Papa

 

O tráfico de pessoas é um dos temas que mais preocupa o Papa Francisco. Em inúmeras ocasiões, o Pontífice manifestou sua solidariedade às vítimas.

 

No dia da memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita e Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico, veja em imagens o empenho do Papa Francisco contra esta chaga social.

 

Assista ao vídeo clicando aqui.

 

Fonte: Vaticano News

Papa: o pecador pode se tornar santo; o corrupto, não

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Papa: o pecador pode se tornar santo; o corrupto, não

 

Na missa celebrada na Casa Santa Marta, o Papa Francisco falou de Davi e Salomão e advertiu para os riscos do “enfraquecimento do coração”.Papa na Casa Santa Marta

 

Davi é santo, mesmo que tenha sido um pecador. O grande Salomão é um corrupto e o Senhor o rejeitou. O Papa Francisco concentrou a sua homilia desta quinta-feira (08/02), na capela da Casa Santa Marta, sobre este aparente paradoxo.

 

A leitura proposta pela liturgia, extraída do primeiro Livro dos Reis, fala de Salomão e de Davi. “Ouvimos algo um pouco estranho”, comentou o Papa: “o coração de Salomão não permaneceu íntegro com o Senhor, seu Deus, como o coração de Davi, seu pai”. E explica que é estranho porque de Salomão não conhecemos que tenha cometido grandes pecados, era sempre equilibrado, enquanto de Davi sabemos que teve uma vida difícil, que foi um pecador.

 

E mesmo assim Davi é santo e de Salomão se diz que o seu coração se “desviou do Senhor” para seguir outros deuses. Ele que havia sido louvado pelo Senhor quando pediu a prudência para governar ao invés das riquezas. Como se explica isso, se questionou o Papa. É porque Davi sabe que pecou e toda vez pede perdão, enquanto Salomão, de que todos falavam bem e que também a Rainha de Sabá quis encontrá-lo, tinha se afastado do Senhor, mas sem perceber.

 

E aqui está o problema do enfraquecimento do coração. Quando o coração começa a se enfraquecer, não é como uma situação de pecado: você comete um pecado e percebe imediatamente: “Eu cometi este pecado”, é claro. O enfraquecimento do coração é um caminho lento, que escorrego pouco a pouco, pouco a pouco, pouco a pouco… E Salomão, adormecido na sua glória, na sua fama, começou a percorrer este caminho.

 

Paradoxalmente, “é melhor a clareza de um pecado do que o enfraquecimento do coração”, afirmou Francisco, o grande Rei Salomão “acabou corrupto: tranquilamente corrupto, porque seu coração tinha se enfraquecido.”

 

E um homem e uma mulher com o coração fraco, ou enfraquecido, é uma mulher, um homem derrotado. Este é o processo de muitos cristãos, muitos de nós. “Não, eu não cometo pecados graves.” Mas como é o seu coração? É forte? Permanece fiel ao Senhor ou você escorrega lentamente?

 

O drama do enfraquecimento do coração pode acontecer a todos nós na vida. Que fazer então? E Francisco respondeu: “Vigiar. Vigiar o seu coração. Vigiar. Todos os dias, estar atento ao que acontece no seu coração” e depois concluiu:

 

Davi é santo. Era pecador. Um pecador pode se tornar santo. Salomão foi rejeitado porque era corrupto. Um corrupto não pode se tornar santo. E à corrupção se chega por aquele caminho do enfraquecimento do coração. Vigilância. Todos os dias vigiar o coração. Como é o meu coração, a relação com o Senhor. E saborear a beleza e a alegria da fidelidade.

 

Ouça o áudio da reportagem completa abaixo.

 

Fonte: Vaticano News

Papa Francisco: Maria é a arca segura no meio do dilúvio

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Papa Francisco: Maria é a arca segura no meio do dilúvio

 

“A Mãe não é um dom opcional, é o testamento de Cristo”, disse o Santo Padre na homilia.

 

O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística, na manhã neste domingo (28/01), naBasílica Papal de Santa Maria Maior, Festa da Trasladação do ícone Salus Populi Romani, que retrata Maria tendo nos braços o Menino Jesus abençoando.

 

“Estamos aqui, como povo de Deus a caminho, para uma pausa no templo da Mãe. A presença da Mãe faz deste templo uma casa familiar para nós, filhos.”

 

“ Associando-nos a gerações e gerações de romanos, reconhecemos nesta casa materna a nossa casa, a casa onde encontrar repouso, consolação, proteção e refúgio. ”

 

“O povo cristão compreendeu, desde o início, que, nas dificuldades e provações, é preciso recorrer à Mãe, como indica a mais antiga antífona mariana: À vossa proteção, recorremos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita”, disse o Pontífice em sua homilia.

 

Papa celebra na Basílica de Santa Maria MaiorPapa na Basílica Santa Maria Maior

 

“Recorremos, procuramos refúgio. Os nossos pais na fé nos ensinaram que, nos momentos turbulentos, é preciso acolhermo-nos sob o manto da Santa Mãe de Deus.

 

Outrora os perseguidos e os necessitados procuravam refúgio junto das mulheres nobres da alta sociedade: quando o seu manto, que era considerado inviolável, se estendia em sinal de acolhimento, a proteção era concedida”, frisou o Papa.

 

“ O mesmo, fazemos nós em relação a Nossa Senhora, a mulher mais sublime do gênero humano. O seu manto está sempre aberto para nos acolher e recolher-nos. ”

 

“Bem o recorda o Oriente cristão, onde muitos celebram a Proteção da Mãe de Deus, que, num lindo ícone, é representada com o seu manto abrigando os filhos e cobrindo o mundo inteiro.

 

Os próprios monges antigos recomendavam que, nas provações, nos refugiássemos sob o manto da Santa Mãe de Deus: invocá-La – «Santa Mãe de Deus» – já era garantia de proteção e ajuda.”

Segundo Francisco, “esta sabedoria, que vem de longe, nos ajuda: a Mãe guarda a fé, protege as relações, salva nas intempéries e preserva do mal. Onde Nossa Senhora é de casa, o diabo não entra; onde está a Mãe, a perturbação não prevalece, o medo não vence.

Quem de nós não precisa disto? Quem de nós não se sente às vezes perturbado ou inquieto? Quantas vezes o coração é um mar em tempestade, onde as ondas dos problemas se amontoam e os ventos das preocupações não cessam de soprar!

 

“ Maria é a arca segura no meio do dilúvio. ”

 

“Não serão as ideias ou a tecnologia a dar-nos conforto e esperança, mas o rosto da Mãe, as suas mãos que acariciam a vida, o seu manto que nos abriga. Aprendamos a encontrar refúgio, indo todos os dias junto da Mãe”.

 

“Não desprezeis as súplicas. Quando nós A imploramos, Maria intercede por nós. Há um lindo título em grego – Grigorusa – que significa «Aquela que intercede prontamente»; que não demora, como ouvimos no Evangelho, onde imediatamente leva a Jesus a necessidade concreta daquelas pessoas: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3).

 

Assim faz, sempre que A invocamos: quando nos falta a esperança, quando escasseia a alegria, quando se esgotam as forças, quando se obscurece a estrela da vida, a Mãe intervém.

 

“ Está atenta ao cansaço, sensível às turbulências, próxima do coração. ”

 

E nunca, nunca despreza as nossas orações; não deixa perder-se uma sequer. É Mãe, nunca Se envergonha de nós; antes, só espera poder ajudar os seus filhos.”

 

“Um episódio pode nos ajudar a compreender isto. Junto duma cama de hospital, uma mãe velava pelo seu filho, sofrendo em consequência dum acidente. Aquela mãe estava sempre ali, dia e noite. Uma vez lamentou-se com o sacerdote, dizendo: «Mas a nós, mães, o Senhor não permitiu uma coisa!» «O quê?»: perguntou o padre. «Carregar a dor dos filhos»: replicou a mulher.

 

Eis o coração de mãe: não se envergonha das feridas, das fraquezas dos filhos, mas quer tomá-las sobre si mesma. E a Mãe de Deus e nossa sabe tomar sobre Si, consolar e curar.”

 

“Livrai-nos de todos os perigos. O Papa disse ainda que “o próprio Senhor sabe que precisamos de refúgio e proteção em meio a tantos perigos. Por isso, no momento mais alto, na cruz, disse ao discípulo amado, a cada discípulo: «Eis a tua Mãe!»

 

“ A Mãe não é um dom opcional, é o testamento de Cristo. ”

 

E precisamos d’Ela como precisa de repouso um viajante, de ser levado nos braços como um bebê. É um grande perigo para a fé viver sem Mãe, sem proteção, deixando-nos arrastar pela vida como as folhas pelo vento.

 

O Senhor sabe isso, e recomenda-nos acolher a Mãe. Não é um galanteio espiritual, é uma exigência de vida. Amá-La, não é poesia; é saber viver. Porque, sem Mãe, não podemos ser filhos. E, antes de tudo, nós somos filhos, filhos amados, que têm Deus por Pai e Nossa Senhora por Mãe.”

 

Francisco recordou que “o Concílio Vaticano II ensina que Maria é «sinal de esperança segura e de consolação para o povo de Deus ainda peregrinante».

 

É sinal: é o sinal que Deus posicionou para nós. Se não o seguirmos, extraviamo-nos. Com efeito, há uma sinalização da vida espiritual, que deve ser observada. A nós, «que, entre perigos e angústias, caminhamos ainda na terra», tal sinalização indica-nos a Mãe, que já chegou à meta.

 

Quem melhor do que Ela nos pode acompanhar no caminho? Por que esperamos? Como o discípulo que, ao pé da cruz, acolheu consigo a Mãe «como sua», também nós convidamos Maria, desta casa materna, para a nossa casa.”

 

“ Não se pode ficar indiferente, nem separado da Mãe, caso contrário perdemos a nossa identidade de filhos e de povo, e vivemos um cristianismo feito de ideias e programas, sem consagração, sem ternura, nem coração. ”

 

“Mas, sem coração, não há amor; e a fé corre o risco de se tornar uma linda fábula doutros tempos. Ao contrário, a Mãe guarda e prepara os filhos. Ama-os e protege-os, para que amem e protejam o mundo. Façamos da Mãe o hóspede do nosso dia-a-dia, a presença constante em nossa casa, o nosso refúgio seguro. Consagremos-Lhe cada dia. Invoquemo-La em cada turbulência. E não nos esqueçamos de voltar junto d’Ela para Lhe agradecer”, concluiu o Papa.

 

Para acessar o vídeo da missa celebrada na Basílica de Santa Maria Maior, clique aqui

 

Fonte: Vatican News

Papa: Não existe uma verdadeira humildade sem humilhação

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Papa: Não existe uma verdadeira humildade sem humilhação

 

O Papa Francisco inspirou sua reflexão no Rei Davi, “um grande”, tinha uma “alma nobre”, mas era também um pecador, tinha “pecados grandes”.

Papa na Casa Santa Marta

“Não existe uma verdadeira humildade sem humilhação”. Foi o que disse em síntese o Papa Francisco na Missa celebrada na manhã desta segunda-feira na Capela da Casa Santa Marta.

 

Uma reflexão que parte da figura do Rei Davi, centro da primeira leitura.

 

Davi de fato, é “um grande”. Havia vencido o filisteu, tinha uma “alma nobre” – porque por duas vezes poderia ter matado Saul e não o fez – mas era também um pecador, tinha “pecados grandes”: “o do adultério e do assassinato de Urias, o marido de Betsabá”, “aquele do censo”.

 

Mesmo assim – observa Francisco – a Igreja o venera como Santo,  “porque deixou-se transformar pelo Senhor, deixou-se perdoar”, arrependeu-se, e por “aquela capacidade não tão fácil de reconhecer ser pecador: “Sou pecador’”.

 

Em particular a Primeira leitura coloca o foco na humilhação de Davi: seu filho Absalão, “faz uma revolução contra ele”.

 

Naquele momento Davi não pensa “na própria pele”, mas em salvar o povo, o Templo, a Arca.

E foge, “um gesto que parece covarde, mas é corajoso”, sublinha o Papa. Chorava, caminhando com a cabeça coberta e pés descalços.

 

Mas o grande Davi é humilhado, não somente com a derrota e a fuga, mas também com o insulto.

Durante a fuga, um homem chamado Semei o insultava dizendo que o Senhor fez recair sobre ele todo o sangue da casa de Saul – “cujo trono usurpastes – e entregando o trono ao filho Absalão: “eis que estás na ruína – afirmava – porque és um homem sanguinário”.

 

Davi o deixa fazer, não obstante os seus quisessem defendê-lo: “É o Senhor que inspira de insultar-me”, talvez “este insulto comoverá o coração do Senhor e me abençoará”.

 

Às vezes, nós pensamos que a humildade é ir tranquilos, ir talvez de cabeça baixa olhando para o chão… mas também os porcos caminham de cabeça baixa: isso não é humildade. Esta é aquela humildade falsa, prêt-à-porter, que não salva nem protege o coração. É bom que nós pensemos nisto: não existe verdadeira humildade sem humilhação, e se você não for capaz de tolerar, de carregar nas costas uma humilhação, você não é humilde: faz de conta, mas não é.

Davi carrega nas costas os próprios pecados. “Davi é Santo; Jesus, com a santidade de Deus, é Santo”, afirmou o Papa e acrescentou: “Davi é pecador, Jesus é pecador, mas com o nossos pecados. Mas os dois, humilhados”.

 

Sempre existe a tentação de lutar contra quem nos calunia, contra quem nos humilha, quem nos faz passar vergonha, como este Semei. E Davi diz: “Não”. O Senhor diz: “Não”. Este não é o caminho. O caminho é o de Jesus, profetizado por Davi: carregar as humilhações. “Talvez o Senhor olhará para a minha aflição e me dará o bem em troca da maldição de hoje”: transformar as humilhações em esperança.

 

Francisco advertiu, porém, que a humildade não é justificar-se imediatamente diante da ofensa, tentando parecer bom: “Se você não sabe viver uma humilhação, você não é humilde”, afirmou. “Esta é a regra de ouro”.

 

Peçamos ao Senhor a graça da humildade, mas com humilhações. Havia aquela freira que dizia: “Eu sou humilde, sim, mas humilhada jamais!”. Não, não! Não existe humildade sem humilhação. Peçamos esta graça. E também, se alguém for corajoso, pode pedir – como ensina Santo Inácio – pode pedir ao Senhor que lhe envie humilhações para se parecer sempre mais com o Senhor.

 

Fonte: Vatican News

Papa Francisco encontra a vida consagrada do norte do Peru

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Papa: ser ricos de memória nos liberta da tentação de messianismos

 

Francisco encontra a vida consagrada do norte do Peru

Papa no Santuário Senhor dos Milagres

Após almoçar no Arcebispado de Trujillo e visitar a Catedral de Santa Maria, o Papa Francisco foi ao “Colégio Seminário” para encontrar os sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas das Circunscrições eclesiásticas do norte do Peru.

 

O Colégio tem 390 anos e é dedicado aos Santos Carlos e Marcelo. Fundado em 1625 como casa de formação para sacerdotes, atualmente é voltado à educação de jovens do primeiro e segundo grau.

 

Eis a íntegra do pronunciamento do Papa:

 

“É costume que o aplauso seja no final, parece que vocês estão me saudando, como se eu tivesse acabado: então vou embora….. (gritam: não!). Agradeço as palavras que D. José Antonio Eguren Anselmi, Arcebispo de Piura, me dirigiu em nome de todos os presentes.

 

Encontrar-me convosco, conhecer-vos, escutar-vos e manifestar o amor ao Senhor e à missão que nos deu, é importante. Sei do esforço que fizestes para estar aqui. Obrigado!

 

Acolhe-nos este Colégio-Seminário, um dos primeiros a ser fundados na América Latina para a formação de tantas gerações de evangelizadores. Estar aqui convosco é sentir que nos encontramos num desses «berços» que geraram tantos missionários. E não esqueço que esta terra viu morrer, quando andava em missão, aqui sentado em sua escrivaninha, São Toríbio de Mogrovejo, bispo Patrono do Episcopado Latino-Americano. 

 

Tudo nos leva a olhar para as nossas raízes, para o que nos sustenta no curso do tempo,nos sustente no decorrer da história para crescer rumo ao Alto e dar fruto. As raízes. Sem raízes não existem flores, não existem frutos.

 

Dizia um poeta que tudo aquilo que a árvore floresce, vem daquilo que está embaixo da terra, das raízes. As nossas vocações sempre terão esta dupla dimensão: raízes na terra e coração no céu, não esqueçam. Quando falta uma das duas, algo começa a correr mal e a nossa vida pouco a pouco definha (cf. Lc 13, 6-9). – como definha uma árvore que não tem raízes. E digo para vocês que realmente dá muita dor ver alguns bispos, alguns sacerdotes, alguma religiosa que definharam.

 

E mais pena ainda me dá quando vejo seminaristas “definhados”. Esta é uma coisa muito séria. A Igreja é boa, a Igreja é mãe, e se vocês veem que não conseguem, por favor, falem para que esteja em tempo, antes que seja tarde, antes de se darem conta de não ter mais raízes e que estão definhando. Assim, ainda haverá tempo para vocês se salvarem. porque Jesus veio para isto, para nos salvar. É por isto que vem: para salvar.

 

Apraz-me salientar que a nossa fé, a nossa vocação é rica de memória, a dimensão deuteronômica da vida. Rica de memória, porque sabe reconhecer que nem a vida, nem a fé, nem a Igreja começaram com o nascimento de qualquer um de nós: a memória olha para o passado a fim de encontrar a seiva que, ao longo dos séculos, irrigou o coração dos discípulos e, assim, reconhece a passagem de Deus pela vida do seu povo. Memória da promessa que Ele fez aos nossos pais e que, perdurando viva no meio de nós, é causa da nossa alegria e nos faz cantar: «O Senhor fez por nós grandes coisas; por isso exultamos de alegria» (Sal 126/125, 3)

 

Gostaria de partilhar convosco algumas virtudes deste ser ricos de memória.

 

1- A consciência feliz de si

 

O Evangelho, que ouvimos, habitualmente lemo-lo em chave vocacional, pelo que nos detemos no encontro dos discípulos com Jesus. Preferiria, porém, fixar-me em João Batista. Estava com dois dos seus discípulos e, quando viu Jesus passar, disse-lhes: «Eis o Cordeiro de Deus» (Jo 1, 36); eles, ao ouvir isto, deixaram João e seguiram Jesus (cf. 1, 37).

 

Isto é surpreendente! Estiveram com João, sabiam que era um homem bom; antes, o maior dentre os nascidos de mulher, como Jesus o define (cf. Mt 11, 11), mas não era aquele que devia vir. Também João esperava outro maior do que ele. João sabia claramente que não era o Messias, mas simplesmente aquele que O anunciava. João era o homem rico de memória da promessa e da sua própria história.

 

João manifesta a consciência do discípulo que sabe que não é, nem nunca será o Messias, mas apenas um chamado a indicar a passagem do Senhor pela vida do seu povo. Nós, consagrados, não estamos chamados a suplantar o Senhor, nem com as nossas obras, nem com as nossas missões, nem com as intermináveis atividades que temos de fazer.

 

Simplesmente nos é pedido para trabalhar com o Senhor, lado a lado, mas sem nunca esquecer que não ocupamos o seu lugar. Isto não nos faz esmorecer na tarefa evangelizadora; antes, pelo contrário, impele-nos e exige que trabalhemos, lembrando que somos discípulos do único Mestre. O discípulo sabe que secunda, e sempre secundará, o Mestre. Esta é a fonte da nossa alegria.

 

Faz-nos bem saber que não somos o Messias! Liberta de nos crermos muito importantes, muito ocupados (é típico ouvir em algumas regiões: «Não, a essa paróquia não vás, porque o padre está sempre muito ocupado»). João Batista sabia que a sua missão era indicar a estrada, iniciar processos, abrir espaços, anunciar que o portador do Espírito de Deus era Outro. Ser ricos de memória liberta-nos da tentação dos messianismos.

 

Esta tentação combate-se de muitas maneiras, incluindo com o riso. Sim, aprender a rir-se de si mesmo dá-nos a capacidade espiritual de estar diante do Senhor com os nossos próprios limites, erros e pecados, mas também com os próprios sucessos, e com a alegria de saber que Ele está ao nosso lado.

 

Um bom teste espiritual é interrogarmo-nos sobre a capacidade que temos de rir de nós mesmos. O riso salva-nos do neopelagianismo «autorreferencial e prometeico de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros».  

 

Irmãos, ride em comunidade, mas não da comunidade nem dos outros! Tenhamos cuidado com as pessoas tão importantes, que se esqueceram como se faz na vida para sorrir.

 

2- A hora do chamado

 

João evangelista até refere, no seu Evangelho, a hora daquele momento que mudou a sua vida: «Eram as quatro da tarde» (1, 39). O encontro com Jesus muda a vida, estabelece um antes e um depois. Faz-nos bem lembrar sempre aquela hora, aquele dia-chave para cada um de nós, no qual nos demos conta que o Senhor esperava algo mais. A memória daquela hora, em que fomos tocados pelo seu olhar.

 

Sempre que nos esquecemos desta hora, esquecemo-nos das nossas origens, das nossas raízes; e, perdendo estas coordenadas fundamentais, pomos de parte a coisa mais preciosa que uma pessoa consagrada pode ter: o olhar do Senhor. Talvez não estejas contente com o lugar onde te encontrou o Senhor, talvez não seja adequado a uma situação ideal ou «mais do teu gosto».

 

Mas foi lá onde te encontrou e curou as tuas feridas. Cada um de nós conhece onde e quando: talvez um momento de situações complexas, de situações dolorosas, sim; mas foi lá que te encontrou o Deus da Vida para tornar-te testemunha da sua Vida, para fazer-te participante da sua missão e ser, com Ele, carícia de Deus para muitos.

 

Faz-nos bem recordar que as nossas vocações são uma chamada de amor para amar, para servir. Se o Senhor Se enamorou de vós e vos escolheu, não foi porque éreis mais numerosos do que os outros – de facto, sois o povo mais pequeno – mas por puro amor (cf. Dt 7, 7-8). Amor entranhado, amor de misericórdia que comove as nossas entranhas para ir servir aos outros com o estilo de Jesus Cristo.

 

Gostaria de me deter num aspeto que considero importante. Em muitos de nós, a formação que tínhamos, no momento de entrar no Seminário ou na Casa de Formação, era a fé das nossas famílias e vizinhos. Foi assim que demos os nossos primeiros passos, apoiados não raro nas manifestações de piedade popular, que, no Peru, adquiriram as formas mais estupendas e um grande enraizamento no povo fiel e simples.

 

O vosso povo demonstra um carinho imenso a Jesus Cristo, a Nossa Senhora e aos Santos e Beatos, com tantas devoções que nem me atrevo sequer a nomear com medo de deixar alguma de lado. Nesses santuários, «muitos peregrinos tomam decisões que marcam suas vidas. As paredes [deles] contêm muitas histórias de conversão, de perdão e de dons recebidos que milhões poderiam contar». Inclusive muitas das vossas vocações podem estar gravadas naquelas paredes.

 

Exorto-vos a não esquecer, e muito menos desprezar, a fé simples e fiel do vosso povo. Sabei acolher, acompanhar e estimular o encontro com o Senhor. Não vos transformeis em profissionais do sagrado que se esquecem do seu povo, donde vos tirou o Senhor. Não percais a memória e o respeito por quem vos ensinou a rezar.

 

Recordar a hora da chamada, conservar memória feliz da passagem de Jesus Cristo pela nossa vida, ajudar-nos-á a dizer aquela bela oração de São Francisco Solano, grande pregador e amigo dos pobres: «Meu bom Jesus, meu Redentor e amigo, que tenho eu que Tu não me tenhas dado? Que sei eu que Tu não me tenhas ensinado?»

 

Assim, o religioso, o sacerdote, a consagrada, o consagrado é uma pessoa rica de memória, alegre e agradecida: trinómio a fixar e manter como «armas» contra todo o «disfarce» vocacional. A consciência agradecida alarga o coração e estimula-nos para o serviço.

 

Sem gratidão, podemos ser bons executores do sagrado, mas faltar-nos-á a unção do Espírito para nos tornarmos servidores dos nossos irmãos, especialmente dos mais pobres. O povo fiel de Deus tem olfato e sabe distinguir entre o funcionário do sagrado e o servidor agradecido. Sabe distinguir entre quem é rico de memória e quem é desmemoriado. O povo de Deus sabe suportar, mas reconhece quem o serve e cura com o óleo da alegria e da gratidão.

 

3- A alegria contagiante

 

André era um dos discípulos de João Batista que seguira Jesus naquele dia. Depois de ter estado com Ele e ter visto onde morava, voltou para casa de seu irmão Simão Pedro e disse-lhe: «Encontramos o Messias!» (Jo 1, 41). Esta é a maior notícia que lhe podia dar, e levou-o a Jesus. A fé em Jesus é contagiosa, não pode esconder-se nem fechar-se; aqui se vê a fecundidade do testemunho: os discípulos recém-chamados, por sua vez, atraem outros mediante o seu testemunho de fé; e – como vemos na passagem evangélica – Jesus chama-nos por meio de outros.

 

A missão brota espontaneamente do encontro com Cristo. André começa o seu apostolado pelos mais próximos, pelo seu irmão Simão, quase como algo natural, irradiando alegria. Este é o melhor sinal de que «descobrimos» o Messias. A alegria é uma constante no coração dos apóstolos; vemo-la na força com que André confidencia ao seu irmão: «Encontramo-Lo!» Pois «a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria».

 

Esta alegria abre-nos aos outros, é alegria para ser transmitida. No mundo fragmentado onde nos é concedido viver e que nos impele a isolar-nos, somos desafiados a ser artífices e profetas de comunidade. Porque ninguém se salva sozinho. E gostaria de ser claro nisto.

 

A fragmentação ou o isolamento não é algo que acontece «fora», como se fosse apenas um problema do «mundo». Irmãos, as divisões, as guerras, os isolamentos, vivemo-los também dentro das nossas comunidades. E quanto mal nos faz! Jesus envia-nos a ser portadores de comunhão, de unidade; mas, muitas vezes, parece que o fazemos desunidos e, o que é pior, muitas vezes fazendo o outro tropeçar.

 

É-nos pedido para sermos artífices de comunhão e unidade, o que não equivale a pensar todos do mesmo modo, a fazer todos as mesmas coisas. Significa apreciar as várias contribuições, as diferenças, o dom dos carismas dentro da Igreja, sabendo que cada um, a partir da sua especificidade, dá a própria contribuição, mas precisa dos outros. Só o Senhor tem a plenitude dos dons, só Ele é o Messias.

 

E quis distribuir os seus dons de tal maneira que todos possamos dar o nosso, enriquecendo-nos com o dos outros. É preciso defender-se da tentação do «filho único», que quer tudo para si, porque não tem com quem partilhar. Àqueles que devem exercer encargos no serviço da autoridade, peço, por favor, que não se tornem autoreferenciais; procurai cuidar dos vossos irmãos, fazei com que estejam bem, porque o bem é contagioso.

 

Não caiamos na armadilha duma autoridade que se transforma em autoritarismo, esquecendo que, antes de tudo, é uma missão de serviço.

 

Queridos irmãos, mais uma vez obrigado! E que esta memória deuteronômica nos torne mais alegres e agradecidos por sermos servidores de unidade no meio do nosso povo.

 

Que o Senhor vos abençoe e a Virgem Santa vos proteja. E não vos esqueçais de rezar por mim”.

 

Fonte: Vatican News

 

Acesso o vídeo do Papa com os consagrados de Trujillo clicando aqui

Papa teme guerra nuclear

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Papa teme guerra nuclear

 

A revelação foi feita aos jornalistas durante o voo que o levou a Santiago do Chile, enquanto mostrava uma foto de uma criança vítima do bombardeio atômico no Japão na II Guerra.

 

O Papa Francisco teme uma guerra nuclear. Foi o próprio pontífice a fazer esta revelação aos jornalistas presentes no voo que o levou até Santiago do Chile.

 

Cartão traz a frase “…o fruto da guerra”Papa no avião com jornalistas

 

O Santo Padre pediu ao diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke, que distribuísse aos jornalistas presentes no voo a foto preto e branco do menino que, após o bombardeio atômico de Nagasaki de 1945, leva seu irmãozinho morto nas costas para ser cremado.

 

A foto que tornou-se célebre por retratar com intensidade as consequências da guerra foi tirada pelo fotógrafo estadunidense.

 

Nos últimos dias de dezembro Francisco a escolheu entre tantas, como um alerta para o perigo atômico, pedindo que fosse impressa em um cartão com a sua assinatura, acompanhada pela frase: “…o fruto da guerra”.

 

Na descrição da imagem é ressaltado o desespero da criança, expresso no gesto de morder os próprios lábios até sangrar.

 

Ouça abaixo o áudio da matéria

 

Fonte: Vatican News

Papa aponta desafio “apaixonante” aos chilenos: inclusão

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Papa aponta desafio “apaixonante” aos chilenos: inclusão

 

Francisco pronunciou seu primeiro discurso no Chile, falando às autoridades. O Papa tocou temas como democracia, povos nativos e meio ambiente. E pediu perdão pelas falhas da Igreja.

 

O primeiro discurso do Papa Francisco em terras chilenas foi às autoridades, à sociedade civil e ao corpo diplomático, reunidos no Palácio Presidencial “La Moneda”.Papa no Chile

 

Depois de ouvir as boas-vindas da presidente Michelle Bachelet, o Pontífice tomou a palavra para manifestar sua satisfação de voltar à América Latina, começando sua visita nesta “amada terra chilena”, onde fez parte de sua formação juvenil.

 

Francisco iniciou seu discurso destacando o desenvolvimento da democracia chilena, que permitiu ao país alcançar nas últimas décadas um “notável progresso”. O Papa citou a celebração este ano do bicentenário da declaração de independência, ressaltando que cada geração deve fazer suas as lutas e as conquistas das gerações anteriores e levá-las a metas ainda mais altas.

 

Democracia e inclusão

 

Diante das situações de injustiça que ainda persistem, Francisco apontou para os chilenos um “desafio grande e apaixonante”: “continuar a trabalhar para que a democracia, o sonho de seus pais, não se limite aos aspetos formais mas seja verdadeiramente um lugar de encontro para todos. Seja um lugar onde todos, sem exceção, se sintam chamados a construir casa, família e nação. Um lugar, uma casa, uma família chamada Chile”.

 

A Igreja pede perdão

 

O Papa enalteceu a pluralidade étnica, cultural e histórica da nação, que exige ser protegida de qualquer tentativa feita de parcialidade ou supremacia. Para Francisco, é indispensável escutar: os desempregados, os povos nativos, os migrantes, os jovens, os idosos, as crianças.

 

“ E aqui não posso deixar de expressar o pesar e a vergonha que sinto perante o dano irreparável causado às crianças por ministros da Igreja. Desejo unir-me aos meus irmãos no episcopado, porque é justo pedir perdão e apoiar, com todas as forças, as vítimas, ao mesmo tempo que nos devemos empenhar para que isso não volte a repetir-se. ”

 

Casa Comum e povos nativos

 

Com esta capacidade de escuta, o Papa convidou as autoridades a prestar uma atenção preferencial à nossa Casa Comum: “promover uma cultura que saiba cuidar da terra, não nos contentando com oferecer respostas pontuais aos graves problemas ecológicos e ambientais que se apresentem”.

 

Francisco pediu a ousadia de um novo estilo de vida, aprendendo com a sabedoria dos povos nativos.

“Deles, podemos aprender que não existe verdadeiro desenvolvimento num povo que volta as costas à terra com tudo e todos os que nela se movem. O Chile possui, nas suas raízes, uma sabedoria capaz de ajudar a transcender a concepção meramente consumista da existência para adquirir uma atitude sapiencial em relação ao futuro.”

 

O Pontífice concluiu seu discurso convidando os chilenos a uma “opção radical pela vida”: “Agradeço mais uma vez o convite que me possibilitou vir encontrar-me com vocês, com a alma deste povo; e rezo para que a Nossa Senhora do Carmo, Mãe e Rainha do Chile, continue a acompanhar e fazer crescer os sonhos desta abençoada nação”.

 

Fonte: Vatican News